quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Primeiro Dragão de Roder - versão da Velha



Roder não era apenas um guerreiro corajoso, hábil e incansável. Ele também era jovem e bonito. Mal chegou à vila, todas as moças se apaixonaram por ele. Mas Roder não estava interessado em garotas; estava interessado em monstros. Queria a emoção da batalha e a aclamação de uma vitória! Assim, a única garota que chamou sua atenção foi a que conseguiu ser capturada pelo dragão das redondezas. Chamava-se Fælyn, tinha quinze anos e tudo o que sabia fazer era cantar e encantar os garotos, mas o que queria mesmo era ser resgatada por um grande herói. Roder veio assim que ouviu a história pela primeira vez. Trazia só sua espada e sua coragem. Entrou na caverna sozinho, e percorreu inúmeras câmaras antes de encontrar a câmara do tesouro, onde a donzela estava amarrada com correntes de ouro num trono cravejado de rubis. Roder não reparou nos rubis nem na beleza da garota, porque não tinha olhos capazes de enxergar belezas, mas viu uma donzela em perigo e jurou que iria salvá-la e punir seu raptor, o dragão. Primeiro quebrou as correntes de ouro, depois gritou pelos túneis da caverna clamando o desafio do dragão. O dragão não veio. Roder era paciente e esperou três dias na sala do tesouro, gritando e chamando. Não passaram fome porque entre os tesouros do dragão havia fruteiras que nunca se esvaziavam e taças que estavam sempre cheias, e dormiram bem sobre cobertores trançados com fios de ouro. Fælyn era uma moça astuta e durante todo o primeiro dia reuniu tesouros e provisões para sair da caverna e viver ricamente no mundo de fora. Dizia que iriam viver em um palácio imenso, viajariam em elefantes, teriam panteras e tigres num grande jardim, e todos os príncipes viriam jantar em seus banquetes. Como o herói ignorasse suas fantasias, a donzela perdeu o ânimo, deixou de acreditar na alegria do seu imenso sonho, e no segundo dia tentava atrai-lo para fora da caverna com outra proposta: se estabeleceriam numa vila nas montanhas, teriam terras para cultivar e protager, defenderiam a vila de ataques de monstros e dragões e seriam recompensados com o amor dos vilãos e com fartos banquetes. Roder, na sua obcessão pelo inimigo que não aparecia, não dava ouvidos às fantasias da donzela. No terceiro dia, Fælyn decidira que iria embora sozinha, com o ouro que pudesse carregar, e procuraria um homem mais sensato, junto ao qual pudesse comprar terrar, construir uma casa e viver em paz e conforto, rodeada de servos. Foi só quando já saía da imensa galeria que se deu conta de que o tesouro que realmente a atraía não era o ouro, nem as pedras preciosas, mas o homem destemido que viera resgatá-la. Então largou o ouro e as pedras e chamou-o outra vez, agora dizendo que iriam juntos resgatar donzelas e lutar contra monstros, que juntos salvariam vilas e reinos, que todo o mundo conheceria Roder o matador de dragões, que ela contaria como ele a salvara das garras do monstro cruel, e que ele ainda a salvaria muitas outras vezes. A isso Roder finalmente cedeu. A imagem dos muitos dragões que ainda ia enfrentar o fez esquecer momentaneamente o que não tinha enfrentado, e ele aceitou sair acompanhado da moça. Os dois estavam felizes com a perspectiva de sua vida futura. Saíram da caverna fazendo planos e discutindo rotas. Roder se animara com a visão de seu futuro, e agora contava incríveis histórias de todos os feitos que pretendia realizar. Porém, mal chegaram à vila, ouviu-se um urro bestial vindo da cova atrás deles.
O sonho de Roder e Fælyn não era tão forte quanto aquele urro.
— Voltarei para te buscar, — ele disse, e então mergulhou novamente na caverna.
Fælyn esperou por ele, aqui onde nós estamos, por dias, semanas, meses. O herói não voltou. As pessoas na cidade diziam que ele havia derrotado o dragão, e que partira para enfrentar outro. Mas algumas poucas pessoas, nesta vila ou em outras, inclusive a própria donzela, sabiam que isso era mentira. Algumas pessoas, notadamente a donzela, sabiam que naquela caverna não havia um dragão, não havia um Inimigo: havia apenas uma garota chamada Fælyn.

2 comentários:

DSchnyder disse...

Mais uma penélope, mais um ulisses. por um momento achei que o herói concordasse em ficar com uma donzela que queria caçar monstros, mas é claro que sua armadura não permitiria isso. estou certa de que faelyn é uma menina muito graciosa, mas essa donzela é uma mulher bem decidida.

ps.: é a Dê! Tem um post nascido na nossa aventura de hoje lá no meu blog, apareça!

Charles Bosworth disse...

Hum, já se passou um tempo e ninguém comentou nada. Acho que posso tentar agora:
Se for como a velha, Faelyn também é um dragão? Roder simplesmente não conseguia ver os dragões a não ser que fossem monstros serpenteantes e horríveis.
Mas a donzela se apaixonou por ele e quis tirá-lo da caverna. Só que Roder só conseguia pensar em dragões e em derrotá-los e isso foi mais forte que o amor que ele sentia por ela?
Ah, mas eu não consigo explicar o urro. Foi um outro dragão? Foi o urro de um dragão quando deixa sua toca?
E se a Faelyn fosse mesmo um dragão, estaria tudo bem para ela andar pelo mundo matando seus irmãos na companhia do herói?