O curioso foi que todo o sonho tinha, sim, um sentido geral. Assim: a espada, o projeto e a viagem são faces diferentes da mesma pulsão que é a luta pelo sentido da própria individualidade. O Dalprá é um símbolo, o Poro é um símbolo, o Renato e o Bruno são símbolos.
Nós estávamos sentados no escuro ao redor da mesa numa festa aqui em casa, e eu havia sentado na mesa dos amigos da Talita. Eu disse alguma coisa, eu havia feito alguma coisa e disse que o Dalprá me decapitaria por causa disso. O amigo dele (Homem Preto(cabelo curto, olhos, roupas)(pele bastante clara)) disse que eu entendera tudo errado, que ele não era o tipo de gente que arrancaria cabeças. A mesa estava na FAU, era noite e estava tudo apagado, a mesa ficava na cantina vazia e no balcão mais amigos da Talita conversavam enquanto o cara montava um rádio. Eles tinham equipamentos e logo descobri que estavam montando uma rádio (pirata) que era voltada para os jogadores de RPG. Me pareceu uma idéia fantástica! Mas então mais amigos meus chegaram, aconteceram coisas que eu não entendi direito, muitas coisas, tudo mudou, cresceu, sei lá. Ninguém agrediu ninguém, nem com motivo.
O plano era o seguinte: vinte pessoas, todas muito amigas, viajariam para outra cidade e se estabeleceriam lá, todas na mesma vizinhança, talvez até na mesma casa. Ficaríamos lá dois, três meses, trabalhando, pagando o aluguel, vivendo como as pessoas de lá, fazendo bicos, e então um belo dia levantaríamos acampamemto, todos os vinte, e iríamos para a próxima cidade. Repeat.
Eu quero muito:
perder o mêdo dessa espada que me ameaça
poder efetivamente te conhecer, depois do mêdo
assumir a tara e concretizar um projeto no que me empolga
assumir o amor e construir uma vida junto com meus amigos
expôr-nos ao risco (a partir daqui somos todos-um) e viver coisas novas
conhecer cada mundo com intensidade e entrega
É muito importante pra mim esse lance de conhecer a fundo um modo de viver a princípio desconhecido. Entrar na vida da cidade e viver como parte integrante por algum tempo. Ao mesmo tempo meus amigos são indispensáveis. Não é a primeira vez que eu sonho com algo desse tipo, mas só agora sou capaz de fazer essa interpretação. Antes os ônibus de viagem eram um elemento intrigante dos meus sonhos. Os sonhos eram mais investigativos. Os signos estavam mais confundidos. Ainda aqui os signos estão misturados. Qual a relação entre espada, Dalprá e RPG? (na verdade, eu sei qual a relação, mas não sei se posso admitir). Principalmente, qual a relação entre a viagem, a amizade, e o cenário de mêdo e insegurança que veio antes? E porque eu levava o Renato na viagem?
Na verdade essas perguntas não são difíceis de se responder, eu só me pergunto se as respostas óbvias dizem toda a verdade, ou se os símbolos estão um pouco mais pro fundo do que queremos admitir.
Ontem na aula Renato disse que como eu estava associada ao número 16 ele achava que eu devia ter importância pra vida dele. Eu sei que ele tem uma certa importância na minha vida. Por isso mesmo eu gostaria de carregá-lo com o resto do meu clã, mas. Há sempre um mas. O mas é a espada? Não, a espada é o mêdo puro, o mêdo que vem de algum lugar anterior, como o desconhecido. Se eu te conhecer, você não vai mais querer me matar. Mas e se eu não for o tipo de pessoa de quem você é capaz de gostar? É essa a questão no fundo, Não é? Quando conhecemos pessoas novas, corremos sempre o risco de sermos pessoas incrivelmente chatas.
Tive um sonho outro dia no qual eu encontrava a casa de uma Bruxa. Para que eu pudesse entrar, ela abria duas portas; uma invisível. Quando passava pela porta invisível podia ver o interior verdadeiro da casa, no qual as paredes haviam sido pintadas de outra cor. A casa era muito interessante e aconchegante e a velha era uma pessoa deliciosa, diria minha mãe. Do lado de fora dois moleques tentavam encontrar a entrada secreta na casa. Olhei pela porta e podia ver os olhos deles através das persianas. Um deles era um Poro muito jovem (mas com o cabelo que ele tem hoje). Me assustei (traição?) e me escondi das vistas deles. "Não se preocupe", disse a velha, "que eles não podem ver através da parede invisível." Nós estávamos dentro da casa invísivel e por isso éramos invisíveis para eles. Mesmo assim os deixamos entrar, e eles se sentaram para comer bolo de nozes e canela conosco. Qual o sentido de se ter uma casa invisível se você deixa todo mundo entrar?
Uma vez sonhei com o Bruno, foi uma coisa assim: nós ficávamos nos encarando. Foi um sonho muito longo, muita passagem de tempo, e só um olhar fixo. Acho que nossa amizade é um pouco assim. Menos perigosa que com o Dalprá ou o Renato, menos inquietante que com o Poro, mas, de certa forma, mais exigente.
Um comentário:
Engraçado, eles simbolizam coisas completamente diferentes pra mim... (nao o renato, nao conheço esse).
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