sexta-feira, 19 de junho de 2009

Como uma parede atrás de uma porta aberta

Quase todos os dias Zacharias encontra uma porta nova em sua casa. Uma porta ou um canto novo. Ou um risco no vidro da janela. Ele passa pela porte e se impressiona muito com as coisas lá dentro. Não com a mesa, com o computador ou com a estante de livros. Ele se impressiona com aquele bloco de pedra que é um pouco menor do que os outros, deixando uma linha de cimento um pouco mais grossa. Ele passa horas admirando uma mordida de rato na base do pé da cadeira. Quando fecha uma porta que permanece sempre aberta, sempre se assusta com a parede que de repente existe. Quando Ilina lhe perguntou se ele gostava mais da sua casa no rancho, ele respondeu rapidamente:
— Como, se, no rancho, atrás das portas não há nenhuma parede!


Hoje durante a aula de cálculo eu súbito levei um susto ao perceber algo completamente inesperado. O que eu percebi é que eu estava acordada. Mais que isso, eu estivera acordada desde o começo da aula. Eu não ficara sequer com sono! Eu não fora para a cama especialmente cedo (na verdade, ficara assistindo TV até a uma da manhã) nem dormira mais do que o normal (na verdade, sexta-feira eu tenho a aula mais cedo da semana, e eu acordara às sete da manhã), nem tomara o mate com guaraná que muitas vezes me permitiu assistir à primeira metade da aula. O dia fora como qualquer outro dia, entretanto em qualquer outro dia eu teria dormido na aula pelo menos até as nove horas, enquanto hoje às nove da manhã eu olhava no relógio e me assustava com o fato de que eu estava completamente desperta.

Nos outros dias também eu estaria extremamente mau-humorada e pensaria para mim várias vezes em como eu detesto a minha vida; hoje, essa frase parecia absurda, e nada mais me incomodava, e eu estava entendendo a matéria, e tudo parecia bom e feliz. Além disso, quando eu saí de casa eu não estava atrasada, ou com preguiça de pegar a bicicleta, e enquanto eu pedalava para a Física eu sentia dores horríveis nas pernas e o buraco na minha boca latejava, mas eu não me sentia miserável por ter que agüentar as dores e os incômodos e seguir em frente com as minhas missões impossíveis. E quando eu voltava para casa eu lembrei das coisas que eu costumo pensar enquanto faço aquele mesmo caminho, e em como eu costumo andar devagar, e tive vontade de rir de mim e pedalar mais rápido apesar da dor e me tornar mais forte e fazer o melhor caminho possível. E acho que foi mais ou menos aí que eu entendi o significado da palavra "estresse".

Sim, a vida é dura, a vida é um inferno, e às vezes parece que não importa o quanto nós queiramos sorrir nós ainda somos obrigados a fazer cara séria e meter a cara naquilo que depois de um tempo nós passamos a odiar. Às vezes tudo dá errado e o tempo é muito curto e a gente perde todas as esperanças de fazer a coisa certa e nossas responsabilidades nos afogam e nos parece impossível cumprir todas as obrigações e satisfazer todas as expectativas. Sim, às vezes nós somos fracos, e tolos, e incapazes, e sacrificamos tudo o que não é urgente e indispensável para cumprir nossas metas que nunca sabemos se um dia poderemos conquistar. E em todos os momentos em que tentamos descansar, sentimos pressa, e ânsia e culpa por não estarmos nos esforçando para fazer o que não teremos tempo para fazer depois. E tudo é muito justificável, e tudo faz muito sentido, e nós gostaríamos de poder investir toda a nossa energia em cada coisa que fazemos. Pelo menos a minha vida é assim.

Mas isso não é motivo para se transformar num escravo de si mesmo. A culpa na verdade só existe porque além de tudo nós sentimos raiva e frustração e não conseguimos fazer tudo o que queremos, e por tudo isso nos sentimos péssimos mesmo achando que estamos fazendo a coisa certa. Esse não é um bom jeito de se viver.

O jeito bom de se viver é se esforçar
em primeiro lugar pra ser feliz
e em segundo lugar para ser capaz.

2 comentários:

Utak disse...

tenho me sentido assim ultimamente. Porém, esse sentimento de "estar despertado" une-se ao seu porque, oq eu causa um pouco de estresse e pré-ocupação. Por exemplo, ontem euf iquei umas duas hroas fazendo o brinquedo pra Alice, e hoje eu corri feito um "diogo"(perdi) na rua, depois da minha aula de neuro, até a casa dela, e da casa dela pra faculdade pra eu fazer o relatório e entregá-lo às 3:30 da tarde.
Gosto da idéia de fazer as coisas, não necessariamente por que é elgal ou divertido, mas pra mostrar pra mim mesmo (e pros outros) que eu consigo. Tem dado certo, tirei 8,5 nas duas partes do trabalho com a Alice... (segunda feira eu me foderei)

Utak disse...

Vixe, entao não entendi seu texto o.O