terça-feira, 27 de março de 2007

Faz muito frio na nasa

...E de repente todos os rostos se viram para saudar os olhos cheios de tristeza


às vezes, quando estou sozinha, vejo homens, moleques, passando, e acho que são você. Você é tão diferente, mas tão contido e confuso, e de repente qualquer não-movimento é o seu trejeito específico que faz seu tímido exuberante e incompreensível jeito de ser. Hoje, há poucos minutos, aconteceu assim: o rapaz passou, e tinha seu cabelo, seus olhos, até os pêlos no rosto (aqueles dos quai eu gosto e você detesta). And my heart skips beat every time I see you — aqui estou eu, sempre esperando que você surja do nada, que você me abrace e sorria e diga, vamos passear? Vamos olhar as estrelas? Vamos brincar de gato-selvagem? Quer ir ao cinema? Quer pedir esfiha? (eu sempre estou pronta pra dizer mais um "não", você sabe.) Quer ver meus desenhos? Quer contar da sua vida? Quer... Você, quando faz essa pergunta, arrepia às vezes meus pêlos da nuca. Divirto-me. Outras vezes me irrito, não gosto que você me peça para tomar as decisões. Onde vamos almoçar hoje? Quando você vai sair da aula? Por que estou escrevendo isto? Você nunca tem todas as respostas (adoro isso em você — mas também detesto, em certa medida).

Viver a vida pulando e pululando (os trens, e circulares, pelo menos) entre santo amaro e butantã está me deixando cansada. Não passo tempo nenhum na faculdade — sempre muito ocupada com trabalhos da faculdade. Queria às vezes não ter meu horário tão rígido, poder fazer aulas de italiano e francês, fazer natação, jogar bola no cepê, sair com os amigos, quiçá ir trabalhar. Estudar é esquisito, não se produz nada, só estudos, estudos-rascunhos, ensaios-estudos e rascunhos de ensaios. E ultimamente não tenho tido vontade de fazer nada de muito emocionante; sair para tomar cerveja ou sorvete no meio da tarde, aprender uma nova sobremesa, ler magás, assistir seriados, desenhar, ir ao médico, reclamar do braço que dói cinco dias depois de tirar sangue (agora parou de doer), observar as árvores, fotografar, atravessar a ponte em pleno pôr-do-sol (mesmo que isso signifique que etou atrasada para a aula) são coisas que me fazem muito feliz. Estou tranqüila agora, mesmo sabendo que não deveria estar, que tenho milhares de trabalhos para hoje à noite, para amanhã de manhã, para amanhã à noite, para sexta de manhã e para sexta à noite, estou tranqüila talvez porque não me importo, talvez porque só quero dormir e ler (e ler e dormir — e sonhar e aprender e deitar-me ao seu lado e rosnar-ronronar baixinho no seu ouvido). Talvez eu só preciso olhar para o tronco castanho e as folhas verdes e o céu azul e me deixar levar pela admiração da beleza que essas cores criam para que meu espírito seja completamente revigorado. Assim, não é sequer preciso levar a vida com responsabilidade e muito trabalho louco e duro. Talvez eu só não esteja interessada no que estou fazendo. Ou eu tenha muito muito muito mêdo de algum dia ter que assumir a responsabilidade. Acho que eu ainda não fui tão inconseqüente quanto gostaria de ter sido.
Tenho sentido muita saudade do meu velho eu, com seus mêdos e dores e intensos sofrimentos. E sonhos, também. Faz muita falta sonhar. Faz muita falta descansar e poder simplesmente jogar a culpa para o lado. É horrível não poder negligenciar nenhum dia da minha vida; não poder perder um pouco de tempo pra depois recuperar, é horrível. Onde está a liberdade? Eu nem sei o que estou fazendo aqui. Não sei o que são os inúmeros trabalhos que temos de fazer. Teria sido diferente se eu não tivesse perdido quase duas semanas de aula? Faria diferença se eu tivesse feito algum amigo aqui? Ou será que são apenas desculpas vazias, desculpas para eu fazer o que quero sem ter nem um motivo racional? Desculpas, talvez, para eu poder acordar junto com o resto da casa, tomar café com meus pais, almoçar com meus irmãos? Ou isso é uma desculpa também? afinal, ano passado eu não fazia nada disso, passava o dia todo no santa e amava aquele jeito de viver! Ainda quero passar os dias inteiros na faculdade, mas será que é possível? Será que algum dia eu vou ter amigos, jogos, atividades interessantes, que justifiquem minha estadia, que a façam agradável? Não sei. Não sei de nada. Não entendo este lugar, esta vida, o despertador tocando tocando milhares de vezes pedindo para eu acordar, e eu pensando droga droga droga não quero acordar tenho sono e ontem tive sono e por isso hoje tenho que terminar o trabalho antes de acordar.

Pensamento nada a ver: segundo a descrição das diferenças entre homens e mulheres que o Mavu (psor de imagem digital) fez hoje, meu namorado é quase uma mulher o.o. E eu sou quase homem, nos mesmo aspectos. Acho que precisamos dar uma olhada nisso.

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