Te ver e não te querer
É improvável, impossível...
Hoje foi um dia esquisito, aleatório. Começou com eu acordando às quatro da tarde. Eu havia fechado a janela, por isso dormi tanto tempo (umas onze horas). Acordei me sentindo esquisita, leve, muito fim-de-tarde. Queria vestir saia comprida, um vestido leve, traqüilo, mas claro que eu não tinha nada disso. Revirei armários. Tomei banho no banheiro da mamãe (onde tem espaço pra ficar sem se molhar!!!), me sequei com uma toalhinha de viagem =o.o='' Vesti uma roupa de baixo que eu nunca usara antes pra poder usar uma blusa cor-de-rosa que eu nunca usara antes, e pus uma calça bem aberta embaixo e uma bota amarela. Isso tudo foi pra vocês entenderem o quão esquisita eu estava me sentido; na verdade, eu cheguei a pensar em me vestir de uma forma muito semelhante à que a Maya se vestiu quando fomos na festa do Equador (*sem comentários...*).
Então eu enchi um pão integral com carne moída tirada d pasteizinhos e comi o pão e os pasteizinhos vazios. Fui lá fora papear com as pessoas que estavam na piscina e descobrir o que era aquela página de história em quadrinhos que aparecera no meu quarto. Depois, fui chamada de Pirralha muitas vezes. Finalmente, fui pro clégio, procurar o grupo de teatro.
Na verdade eu não encontrei o grupo de teatro. Quando cheguei no santa, encontrei foi o Guigo, distraído, voltando da mesma procura, sem sucesso. Trocamos alguma impressões de revolta (afinal, o ensaio não ia até as sete? não tinham o dia inteiro?) e saímos passeando. Entramos no prédio dele, deitamos na grama do jardim, papeando, céu imenso, parquinho, janelas. Passou a Giulia indo embora, ela disse que o pessoal tava no campo. Fomos encontrá-los. Encontrar-vos.
Vocês estavam jogando mafioso quando aparecemos por cima do muro, assoviando e rindo. Pareceram assustados, surpresos. Fomos cumprimentá-los, nada demais. Depois, subimos para pegar uma bola. Comi sorvete de chocotone com brigadeiro, mas isso não vem ao caso. Quando descemos, estavam jogando um jogo da verdade curioso, e nos convidaram para participar. Adoro jogo da verdade, mas prefiro futebol, e recusei. Eu e o Guigo jogamos bola, até que chegaram Leli e Tutti. Aí, eu já desistira do futebol, e queria entrar no jogo de vocês, mas elas não quiseram. Fomos lá para cima e, quando voltamos, chovia. Fomos até a casa do Nonô antes de descobrirmos que vocês estavam no quiosque. Quando os encontramos, vocês nos deram uma escolha: ou entrávamos no jogo ou íamos embora. Eu queria entrar, e talvez o Guigo também quisesse, mas as meninas tinham uma opinião muito ruim sobre jogos nos quais se faz perguntas embaraçosas sobre aspectos íntimos da sexualidade de cada um... Ok, eu também tenho, mas não é essa a questão. Eu achei que o jogo podia ir para assuntos interessantes, eu acho. Elas não. Por isso fomos embora, fazer nosso próprio jogo. Conversamos por muito tempo, até que a Tutti foi embora. Ficamos, eu, a Leli e Guigo, a andar pelo condomínio, conversando, falando de aflições e passados obscuros. Até que a Leli também teve que ir embora. Fomos, eu e Guigo, até a grade que nos separava de vocês, pensando em pular. Mas ficamos receosos, ele mais que eu. Seríamos bem-vindos? Vimos vocês andando em nossa direção, resolvemos esperar. Vocês pularam a grade, mas queriam fazer alguma coisa, e nós conversávamos, animadamente, estávamos alegres, eu acho. Fomos todos para o parquinho, onde vocês decidiram ir embora. Eu resolvi ir também. Não entendi nada. No fim, eu fui embora antes de alguns de vocês...
Amanhã é meu aniversário, e eu estava só pensando em como tudo isso faz pouco sentido. Ao meu redor, tenho amigos que não querem se permitir nenhuma distração do vestibular, tenho amigos que brigam comigo quando eu não estudo; tenho amigos que estão ocupados olhando pro céu, discutindo bobagens, contando histórias sobre outros amigos; tenho amigos que querem falar sobre sexo, sobre sonhos, sobre drogas, sobre leis, sobre política, sobre amizade, sobre dinheiro, sobre a Verdade; tenho amigos que querem se divertir, aprender, construir amizades, crescer; tenho amigos que não querem, ponto. Eu não sinto nada disso. Nada mesmo. Eu quero me construir, devagar, com calma, sem mêdo, sem pressa, sem precisão (vocês percebem a polissemia?). Eu me importo com vestibular. Mesmo. Eu quero passar. Mesmo. Mas também quero arrancar minha tripas e fazer delas uma forca toda vez que a Camilla faz cara de indignada em resposta a eu achar que não é preciso estudar no feriado. E também quero fazer protestos violentos toda vez que eu ligo pra algum amigo com o qual quase não saio e ele não pode sair comigo porque tem que estudar todos os dias da semana. Não entendo como alguém pode pretender ser feliz nesse regime. E as amizades? e o tempo pra fazer besteiras? pra correr na chuva, cadê? Pra dançar, conversar, aprender o outro? e namorar? e fazer amigos? Enfim, isso tudo me incomoda, profundamente...
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