quarta-feira, 26 de abril de 2006

O Impulso Inicial - II

Passaram-se alguns dias. Os dias, em si, foram tranqüilos, mas o acúmulo do tempo em minhas costas foi levando-me para cada vez mais longe de ti. A maré do meu tempo jogava-me de um lado para o outro -- e eu temendo a morte agarrava-me aos braços dele para poder resistir à sua fúria oceânica. Toda a vez que pensei em ti, toda a vez que lembrei do teu sorriso, senti o desejo de liberdade das lágrimas forçando-me a rosnar de raiva da minha própria dificuldade de sorrir. Mas então desapareceste, e me vi sozinha em meu navio. Desculpe-me, eu peço. Mas ninguém responde. O barco vazio e no calor do barco vazio a sensação dos seus olhos me encarando, ou seus olhos com simplicidade e abertura. Adormeci, e sonhei com você. Você estava parado, me olhando. Não fomos além disso. Nem poderíamos; arrumei meu quarto até que ele estivesse mais bagunçado que antes, e parti. Passou-se mais um dia e eu não pensei em ti. Mas o barco tinha o teu nome: afundei-o.

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