quarta-feira, 15 de março de 2006

No doce olhar de um negro cão eu vejo

Algo mudou. O cheiro do vento e o gosto da água repetem silentes — que algo está profundamente diferente. O som dos passos no corredor, o ruído das conversas durante as aulas, reafirmam o que querem gritar os quietos suspiros dos rapazes adormecidos sobre as mesas. O tamborilar inquieto dos dedos na madeira concordam em cadência: que algo não é mais o mesmo, que a chuva parou pra pensar. A chuva lavou minha alma, vai me afogar...

ô cantos de mar outrora
revolto no seu ninar
luzes, volteios
ondas
a marejar

ô chuva de céu agora
sonoro a reronronar
ô canto de anseio
a nuvens
descarregar

a brisa que o mar volteia
laceia o meu sonho
e sonho
que estou à beira-mar
ai sonho lúcido e feio
diante de outro mais louco
a chuva lavou meu peito
e vai me afogar

É. Cada vez que olho nos olhos do meu doce cão negro e alegre penso que algo está num outro lugar. As coisas mudaram. O mundo inteiro sabe. Eu vou percebendo aos poucos, como se não tivesse acontecido nada...

Talvez tenha sido só um sonho... mas o calor do seu toque foi tão real... e o som da sua voz me puxando dos meus devaneios... e o seu olhar perdido... tudo...

I couldn't help thinking I was in love... But then again...
And then you looked at me, and everything vanished
Everything
As it always does

Não importa, quando você está comigo... não importa mesmo...

mesmo assim... as coisas estão mudando...

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