sábado, 1 de maio de 2004

O Último Canto


Os olhos fechados.
Fechados, para cantar ao mundo uma certeza. Mas que certeza?
Essa pergunta me volta sempre. Não quero falar do que não sei, mas a verdade, é que não sei de nada.
Queria poder contar tudo a vocês. Tudo mesmo. Mas o que me diriam? Não quero trazer-lhes pensamentos vis, que não possam vocês mesmos compreender realmente.

Eu criei esse blog para poder contar às pessoas o que me vai pela alma. É o que eu sempre fiz. Na vedade eu comecei a escrever para que as pessoas soubessem. Na internet, para que soubessem logo. Sempre que quizessem. Claro que nem sempre as pessoas querem.

Na verdade eu me senti muito estranha quando o Bruno disse pela primeira vez que eu deveria fazer um diário secreto. Um que ninguém lesse. Para que? Eu continuava cantando...

"When everything's made to be broken,
I just want you to know who I am"


Para que me esconder das pessoas, se é tão mais fácil deixar que elas me vejam?
A verdade é que eu sou meio complexada. Traumatizada. Na minha infância eu era uma pessoa muito fechada. Amava pofundamente o mundo que eu criara dentro de mim, e a minha visão do mundo. Mas não conhecia o mundo realmente...

Já então eu escrevia. Gostava de escrever, de escrever mesmo, gostava de sentir o papel rascando o lápis(ou vice-versa), as palavras se formando. Mas não era importante. Eu escrevia para poder lembrar depois. Escrevia pouco. Na verdade eu gostava tanto de montar as frases, montar os enredos, as falas, as amizades e inimizades que no final eram todas o mesmo, os nomes e personalidades(ou não, né... eu era pequenina), que, tivesse alguém me dado um gravado portátil naquela idade, e tivesse eu o usado, hoje eu poderia passar horas ouvindo as histórias fantásticas criadas por minha mente infantil.

Mas o tempo passou. Um dia eu descobi que as pessoas, mesmo as mais próximas, tinham uma idéia errada de mim. Que ninguém sabia quem eu era. Isso me agoniou profundamente.
Eu mudei muito nesse dia. Passei a me mostrar completamente para o mundo, a querer mais do que quase tudo que as pessoas soubessem quem eu sou. Que lessem o que eu escrevo. Comecei a expôr tudo o que eu fazia, como se isso fosse melhorar totalmente a minha vida.
Eu também comecei a amar de uma forma que eu nunca achei que fosse ser possível. Muito. Amar a vida, as pessoas, as coisas. Tudo.


Uma coisa que eu sempre me perguntei, foi pelo que eu me apaixonara quando tinha uns três, quatro anos. Cantava a música:

"Mandacaru quando fulora lá na cerca é um sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca é um sinal que o amor já chegou ao coração
"

E eu me perguntava como aplicá-la a mim mesma. Nunca fui muito de boneca. Ter eu tinha, várias, brincava até, um pouco, que elas eram tão lindas que não havia não abraçá-las e chamá-las de filhotinhas, tão fofas... Mas eu me perguntava.
Eu era apaixonada sim, mas por quem? Por meus pais, meus irmãos e primos? Nem amigos eu tinha tanto assim, para amar tão profundamente. Eu tenho até medo que minha amigas de então leiam isso, mas é verdade. Eu nem era capaz de ter amigos assim.

Mas isso foi bem antes.

Lá pela quinta, sexta, sétima série, eu descobri uma coisa extraordinária: eu tinha um melhor amigo. Era algo novo para mim. Era alguém que eu amava, mas aí também, agora eu já amava todos os meus amigos. Eu finalmente sabia quem eu amava tão profundamente.
E agora eu sabia também quem era meu melhor amigo. Foi minha primeira Grande Descoberta.

Minha segunda Grande Descoberta foi que ter um melhor amigo não signifiva necessariamente confiar nesse amigo do peito(mas aí também eu não sabia mais confiar em ninguém). Sempre me senti meio desconfortável com aquele grande amigo ladrão, pivete, chato. Às vezes eu queria passar uma semana sem olhar para a cara do dito cujo. Se ele esquecesse que eu existia, por algum tempo ainda eu deixaria ele lá, com aqueles amigos que sempre foram mais dele do que meus.
Nessa época eu já desistira de 'gostar' do Sadek, que eu ainda achava totalmente lindo(desde a 1a série, aliás), achava que o cara mais lindo do Santa era o Pedro(mas não tinha muita coragem de admitir porque todo mundo achava ele muito feio), e tinha acabado de conhecer o Dan(que era mto pentelho, btw). Curioso, não?

Quem me salvou da agonia de não confiar no meu melhor amigo foi o Dan.
Ele foi uma Descoberta realmente Grande.

Na oitava série ele se tornou um amigo como eu nunca tivera. Eu percebo claramente a diferença da sétima para a oitava. Na 7a, eu até lembro dele em Minas, mas é pouco. Lembro mais é de eu me perguntando se ele 'gostava' de mim, pelo jeito como me tratava. Eu odiava isso. Mas ele era gente-fina. Ou pelo menos era o que o Bruno dizia. E eu até que aceditava nele(mas não acredito mais, nesses casos.). Na oitava, eu lembro perfeitamente dele no Pantanal, naquela bagunça do Sex and the Truck. Que saudades!! Foi tão perfeito. Nós éramos um, todos nós. Nos amávamos mutuamente como... como irmãos, só que muito mais que irmãos.
...
...
... É estranho me perceber pensando isso, eu que tive meus irmãos por melhores amigos até meados do ginásio.... ¬¬
...
...
... Por outro lado, é verdade.

Aí eu entendi que Melhor Amigo não tem que ser necessariamente um só. Dá para ter mais de um. O Bruno e o Dan. Daniel. Eles também estavam entre aqueles três caras que eu queria para mim. Quando aquele termo, 'gostar', já era muito fútil para explicar o que eu sentia. Eu morria de inveja deles. Todas as vezes, as festas, que eu os via beijando uma mina, eu me perguntava se algum dia aquela ia ser eu. E então eu tinha até um engodo, um desgosto terrível de olhar para ele. E eu cantava tão forte para ele, para ele aquela música forte! E aí, eu dançava como uma chama acesa ao vento, na loucura, bêbada, caindo mesmo, ainda que eu não tivesse bebido nada, ou — o que era provável — quase meio copo de algum Sex on the Beach.
Foi horrível.

Mas passou. Esse desespero sempre passa. Se é bom ou não, cabe a cada um decidir. Para mim, só foi bom agora. Agora que o Dan está namorando a Elena, que o Pedro e o Bruno estão apaixonados por suas respectivas Júlias, aliás muito gente-finas. Antes disso foi difícil.
Foi difícil entender, e como entender, o que eu era capaz de sentir. De querer as pessoas mais estranhas, as mais inesperadas. As proibidas. As longínquas. Eu tenho sim aquele problemas sério de 'gostar' só das pessoas erradas. Ou de nem pensar nas que estão do meu lado, e só perceber o quanto elas gostam de mim quando já é muito tarde. No fim é tudo a mesma coisa...

Mas, como eu ia dizendo, a melhor coisa que me aconteceu foi essa remessa de gente nova no colegial. Primeiro, porque amigos novos sempre amenizam as dores do presente e do passado. Eles unem a gente, de uma forma que ninguém sabe como se faz. Depois, porque eu sei que ganhei um amigo que nunca vai me fazer me sentir assim. Um que me trata de igual para igual, uma coisa que nunca aconteceu(eu estou falando do Rodrigo, só para constar).

E finalmente, porque eu encontrei um cara doce o suficiente para não me fazer me sentir sufocada, nem humilhada, nem desprezada, nem esquecida, nem fraca, nem pouco, nem só. Eu só sinto saudades dele, só isso. Esses dois dias. Eu só queria ter tido a cara de dar um abraço apertado nele na hora que ele foi embora. Em vez de ir apressada, quase fugindo para casa.

Mas eu falo sobre isso depois.

"One thingh I haven't told you
I just wanna hold you
and never let go..."

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