segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

Maravilhas da Gíria Paulistana

(ou pelo menos da nossa gíria...)

Isso é uma coisa que eu sempre quiz fazer. Se a língua é uma coisa absolutamente fantástica, a gíria é a maior obra de arte criada dentro dela. E nem venham me contrapôr com discursos pomposos sobre literatura. Simplesmente não há. Gíria é algo fantástico.

Eu digo isso por observação e experiência própria. É curioso observar como existem gírias que são... Não atemporais, mas eternas. Nasceram talvez não há tanto tempo, mas desde então seu uso não diminuiu, nem cresceu. Nem sequer se modificou. Nem seu sentido. Cabem nessa descrição as mais batidas, rodadas, biitas, aqueles bagulho estranho que a gente fala, esses negócios malucos, sem pé nem cabeça, sem eira nem beira, sem cabimento que, meu, alguém aí sabe quê que a gente 'tá grunhindo? Pois é, ? Fala sério. Vai entender como é que, afinal, elas ainda não rodaram nem caíram fora. Mas sei lá.
Uma coisa curiosa sobre essa história de rodar e rodada é que essas duas palavras têm significados vagamente diferentes. Rodar vem das rodadas dos carros, que não conseguiam fazer a curva e saíam rodando, mesmo. Rodada por algum motivo é mais uma coisa meio passada, meio gasta, meio... deixa p'rá lá.
Mas boa mesmo é a história da trombada. Quem nunca se perguntou por que diabos essa palavra tinha esse nome... Sabe, trombas!!? Bom, eu nunca pensei no assunto, na verdade. Mas isso é outro departamento, porque a história é boa mesmo. Dizem que um elefante fugiu de um circo e bateu num bonde(daqueles que fazem tuc-tuc-tuc...) aqui em Sampa. Curioso, não? Booooooommm motivo para começar a chamar qualquer colisão de trombada. E aí vêm os trombadinhas. Esses podiam bem ser chamados de "colisoinhas", se não fosse pelo bendito elefante — porque bater também é uma gíria, só que mais antiga. Teriam pagado um mico daqueles...

Também têm aquelas gírias batutas que já existiram mas foram reinventadas recentemente. Aí se vêem batutas e supimpas da vida... Já com as variações batutérrimo e supimpérrimo.

E depois vêm aquelas mais da moda, aquelas manos vecchias que a gente realmente fala o tempo todo, com todos aqueles trashs, bizzarros, tosqueras, animalmentes, animalescos, animálico(e outros tipos variados de animais), THUD, energúmeno(alguém aí ainda lembra o que isso significa?), e outras bizarrices, geralmente compostas, como "stúpido ridículo", "anta paralítica", "resto de macaco primitivo semi-decomposto por bactérias sem mais o que fazer" e outras trasshissidades. E a maior parte dessas coisas ainda pode ser grudada num sufixo -esco, -mente, -ice, -íssimo ou -érrimo, ou um prefixo a-, in- ou ex-.... P'rá gente poder formar coisas como "tosqueras animalmente rascadas e abizzarradas, tipo, viajadamente trashs por razões mto sem-noção porém batutazadas, rodaram na batatinha e agora, se pá, num rola, tá ligado?".... Tipo...... Tem algumas dessas que simplesmente já tão por fora da nossa língua, ? Aquelas velha história de morar não colou, bródi, por aqui, tá ligado? Eu não sei porquê falar em gíria é tão prazeroso...

Uma vez eu e a Tali tentamos descobrir de onde vinha desencanar... Viajamos animal na batatinha sobre
"encanar", "não encana", "entrar pelo cano" e outras viagens... Pensando agora a gente podia ter entrado em órbita e pensado em "entrar em cana" mesmo, o sentido tem mais a ver. Na verdade é quase a mesma coisa... Tipo "Sai dessa cana..."...

Quem sabe eu continue isso depois, quando não forem quase onze... Sei lá... VIVA A GÍRIA!!!! WOOHOO!!!