quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

O Sangue caindo em gotas na terra

Esta vontade estranha de morrer aos teus pés. Olhos ao redor e só vejo terra, sangue, minhas lágrimas dissolvendo a terra escura tão linda porque no fundo eu só queria me fundir à terra, me dissolver na terra, dispersar em todas as raízes de árvores e me fundir à Terra para sempre, sem que vocês percebam minha existência. Viajar o mundo inteiro via pássaros e tartarugas, seres humanos e máquinas, e até correntes de vento e de mar.

Quero esquecer tudo...
Quero descansar...


Mesmo que você entenda o que eu falo sobre você, tudo isso parece ter acontecido há muito, muito tempo... Parece-me até que a terra engoliu nossas brincadeiras no tempo em que não era você que me machucava. No tempo em que nem éramos tão amigos. Mas faça o que você quiser, desperte, resplandeça num mundo fantástico, alce vôo. Eu estarei do seu lado a maior parte do tempo. Apenas peço que não se apaixone por mim, se não for pedir demais. Acho que eu preferia que nenhum outro homem se apaixonasse por mim. Acho que eu preferia não falar sobre isso, também.

Acho que eu preferia ficar muda.

Acho que eu preferia ficar muda, eternamente muda, profundamente muda: nenhum som deformaria-se em meus lábios e só rugidos guturais nasceriam de minhas cordas vocais. E a humanidade, incapaz de decifrar meus urros, finalmente desinteressar-se-ia de mim, e passaria a ouvir canções menos felizes e perigosas... Você estava certa, Ludi, e, como Sartre, tendo a achar que esta afirmação é tão mais verdadeira quanto mais dor ela vem a causar-me. Eu também achei que só poderia fazer as pessoas felizes quando eu fosse feliz, mas no fundo as pessoas não estão felizes de qualquer forma. E eu me policio para não me empolgar, para não falar demais, para não despertar nos outros sentimentos perigosos como o amor. Eu odeio o amor. Eu amo o amor. Eu queria compreender o amor como algumas pessoas compreendem: um amor único, dedicado a uma só pessoa, quando todos os outros sentimentos são de amizade ou companheirismo. Ágape, Filia e Eros. Meu irmão, meu filho e meu amante. Desta forma, você sabe que eu amo apenas você, né?

Queria não saber mais nada.

"Teatro é apenas teatro", eu tive de repetir para mim mesma, tive de me convencer e devia tê-lo dito em voz alta para que todos ouvissem, mas não disse. Um beijo amoroso, mas não entre ele e eu, e sim entre Romeu e Julieta. Porque eu não o amo, não assim. E odeio cada instante desse beijo porque me faz lembrar de que, se ele não me ama, pode voltar a me amar. E mesmo assim naquela cena o amo porque não sou eu nem ele, somos Romeu e Julieta e eu me esforço pra dizer que não é nossa culpa, a peça é assim, e tento me convencer de que todos sabem que é apenas uma peça e de que aquilo não tem nada a ver com os atores, porque eu quero que isso acabe. Eu já tinha medo desse momento. I'm beyond you, and I don't want to return ever again. E por favor não volte, eu não quero isso também. Fiquem longe de mim, que eu mordo sim.

Mas "Teatro é apenas teatro" como "música é apenas música" e "literatura é literatura" e nem tudo o que eu escrevo é sobre mim, embora as pessoas nunca entendam isso.

O Sangue cainda em gotas na terra....

Pela primeira vez estou feliz porque quase ninguém vai ler isto aqui.
As pessoas ficam dizendo para eu me abrir, para não guardar mágoas, etc., mas falar parece pior, parece que cada detalhe a mais vai ferir alguém de quem eu gosto ou causar alguma reação desagradável, parece que cada palavra pode despertar um sentimento perigoso, parece que tudo vai dar sempre errado! Parece que quanto menos eu falar sobre isso, menos preocupante será. E não é culpa de vocês, deixem disso. Talvez eu não acredite mais que existe solução.

O que é horrível porque tira toda a função deste mundo vil.

Acontece que eu fiquei feliz porque o Artur parecia melhor mas fiquei ao mesmo tempo triste porque de certa forma eu não estava. Não sabia que pesava tanto. Não sabia que era tão difícil. E eu te agradeço por me mostrar, big Tortuga. Porque quando mais difícil parece ser ser forte, mais a força converte-se em ação e se concretiza, passando a existir. Não posso manter-me imóvel pois tenho medo de cair.

Então aqui este estranho desejo de adormecer em teus braços e perecer aos teu pés. De escorrer em gotas por rios imensos para chegar ao mar, meu divino mar. Para velejar para sempre e viajar. Mas enquanto isso eu não posso desistir. Eu quero qualquer coisa que não existe.

Espero que agora tenha sido mais claro.

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