Eu tô feliz. É estranho. É bom. É quase sem motivo.
Eu estou com mêdo. Medo de que mais uma vez eu não consiga. Nas pequenas coisinhas diárias. Medo de que isso não me torne mais forte. Uma grande bobagem, aliás. Medo de te machucar. Acho que esse medo é culpa do Bruno e do Marco. Mas tudo bem. Eu só tenho mêdo de você.
Eu devia agradecer. Agradecer vocês por me fazerem o que sou. Eu sou o que vocês me fazem. E vocês me fazem feliz.
Apesar de tudo.
"Apesar de lindo, o mundo é feio."
Não me importa se eu vou ou não te amar pra sempre. Não
consigo ficar pensando no futuro. Por enquanto, pelo menos, cada dia é
sagrado. Roubem um dia de mim, para ver o que acontece. Eu morro. E nessa morte, destruo tudo o que criei. Quem me amar morre comigo, a parte do peito e da alma que eu levar comigo. O inferno coberto de chamas.
"Apesar das cores, o mundo é cinza."
Na verdade, não posso saber. As pessoas são demasiado distraídas. Ontem eu estava chorando, realmente chorando, lágrimas escorrendo (apesar do motivo poder ser considerado besta por alguns) e ninguém viu. Eu tenho medo de mim mesma. Acho que eu consigo ficar realmente triste e não deixar visível. E não é intencional. Meus olhos vermelhos, um gosto salgado na boca, os pensamentos correndo furiosamente em circunferências concêntricas. As pessoas me olham, conversam comigo. Chego a pensar: será que ninguém vê, ou realmente ninguém se importa? Ou na verdade alguém se importa mas ninguém sabe o que fazer? Eu olho pro lado. Eu sei que ele viu. Olhou pra mim, fez um comentário sobre o cachecol. Mas não vai fazer nada. Nem falar nada. Você olha pra mim com um olhar que eu não consigo decifrar. É como se não entendesse nada. E acho que não entende mesmo. Acho que a minha sorte é ter uma mamãe-cogumelo que me abrace. Que me faça me sentir a pessoa mais linda do mundo. Que me faça querer ser a pessoa mais linda do mundo. Acho que mães fazem isso mesmo. Minha mãe faz também.
Aliás eu devia agradecer à minha mãe. Por ter me ensinado tanto: a amar, a odiar, a sentir fome, a fazer café, a me virar, a fazer o que eu quiser, a cumprir meus deveres, a sofrer, a ser feliz; e por ter me feito compreender o quão apaixonada eu estava (e estou) por aquele cara que é insuportavelmente fofo (no sentido de que eu não suporto não causar reações fofas nele) e incrivelmente bobo...
"Marina, quando você pensa nele, seu coração bate mais forte?"
"Hey, Sally could wait, she knows it's too late as she's walking out by
Hey slides away... Please don't look back in anger, I heard you say..."
É bom ter amigos que te abraçam e te seguram.
É bom gente que te faz feliz.
É bom pintar, desenhar, fazer arte.
É bom saber que m
c=
12 5...
É bom olhar para alguém que tu adoras e esse alguém te olhar de volta, sorrindo tanto quanto tu, um sorriso supremo, completo, de pura satisfação.
É bom jogar futsal com meninas que não vão hierarquizar o time, vão contar contigo até a última gota.
Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
É tão sério
E selvagem.
É bom saber que temos cada minuto do nosso dia, porque, afinal, temos
cada minuto do nosso dia.
É bom abraçar e não querer largar.
É bom sentir o cheiro da gente que a nossa gente ama, a gente que a nossa gente não consegue viver sem.
É bom saber quem eu sou, às vezes.
É bom saber algumas coisas sobre mim.
Cheiros favoritos: côrpo humano (sim, o suor, o sangue, a saliva, as lágrimas; sim, a pele, os pêlos, o bafo, o côrpo o corpo o corpo...), água (a chuva que ainda não caiu, o esguicho molhando as crianças, a cachoeira chovendo sobre os corpos, o cheiro da mata amazônica -- que aliás é totalmente diferente do da mata atlântica), fazenda (os cavalos e o gado vivos comendo, andando, suando, aquele mato todo, terra molhada, coberta de bosta, a poeira nos dias secos com aquele cheiro de mato e quente, a água, a madeira - viva e morta -- as folhas e os insetos todos, junto com os passarinhos, e o vento), comida (sim, a carne, suculenta, as batatas, os legumes, as massas fumegando, o arroz, o frango com alecrim com rúcula...)... Aliás bastante nessa ordem... E mais algumas outras coisas.
É bom ter amigos que acham que se importam comigo.
É bom ter amigos que
se importam.
É bom ter mães.
É bom ter pai.
É bom ter irmãos, agregados, irmãos-cogumelo, bichinhos de pelúcia, bichinhos de estimação, coisas-fofas-que-melhorem-meu-dia, uns caras possessivos que acham que são alguma coisa, uns caras incríveis (no sentido original da palavra) que acham que são possessivos, uns caras fofos que acham... Eu acho que acham alguma coisa. Umas amigas que são gente como eu (diferente dos caras, eles são incompreensíveis em demasia), que choram quando devem chorar mas só conseguem me fazer feliz...
Eu estava pensando, toda a minha possessividade vem de um estranho (mas compreensível) desejo de que algumas pessoas sejam mais possessivas comigo...
É bom cantar. Eu gosto de cantar. Eu gosto da minha vida.
Eu estou feliz.
Culpo-vos por minha alegria. Quero um abraço. Quero ser feliz.
Todo o mundo quer ser feliz. Mas ser feliz não é importante. Liberdade é importante. O conhecimento leva à liberdade. A abertura nos leva ao conhecimento.
Eu devia agadecer, sinceramente, ao Tio Fernando, que me fez perceber, pela primeira vez, alguns anos atrás, que existe muito mais conhecimento no mundo do que eu posso ter, e que não é preciso ter lido todos os livros (aliás, é absurdo).
Tem tanta gente a quem eu preciso agradecer, por tanta coisa...
Por exemplo, ao Artur, eu preciso agradecer por discordar de mim, e saber argumentar melhor do que eu, ganhando assim as discussões (embora eu ainda não tenha muita certeza de que ele estivesse certo), e por concordar comigo com um sorriso de convicção e obviedade; ao Yuri, eu preciso agradecer por discordar de mim e muitas vezes estar, de fato,
errado, me fazendo rir bastante, mas também às vezes estar certo, me deixando encabulada, e por concordar comigo com um entusiamo que me leva a um entusiasmo ainda maior; ao Bruno, por discordar de mim sem nenhuma preocupação em estar certo ou errado, discutindo por discutir, e só concordar comigo em obviedades e bobagens; ao Charles por discordar de mim com um tom de voz e um olhar que me fazem me sentir uma criancinha tola, e por concordar comigo me fazendo rir; ao Fábio, por discordar de mim e sempre vencer a discussão me fazendo me sentir muito estúpida, e
nunca concordar comigo; ao Ed, por não dar a menor importância a esse tipo de problema, e me fazer encarar o problema de não poder morder; e por várias outras coisinhas, a estes e a todos os outros...
Acho que já babblei demais.
Vou comer.
Tchau.