quinta-feira, 5 de agosto de 2004

A Day in the Life

I need a muse today, oh boy...

Foi um dia totalmente fora do normal.
Isso não é bom, nem ruim
se bem que foi um dia realmente muito bom....

... and though the news were rather sad.. oh I just had to laugh.. I saw the photograph.. ...

Andar pela rua é sempre uma experiência válida.
Olhar para cada pessoa que passo na rua.
Algumas pessoas sorriem, outras parecem que estão indo se lacrar n'alguma caixa enorme de concreto, que alguém construiu ao redor daquela área por onde a radioatividade da bomba atômica se espalhou.
Algumas são as mesmas de sempre, que é a parte mais interessante de fazer esse caminho a pé todos os dias, mais ou menos no mesmo horário.
Existe por exemplo aquele pai simpático com o filhinho fofo loiríssimo com um pastor alemão chamado... Droga, qual é o nome do cachorro..? Não me lembro! Ah, o Nick! Nick, é esse o nome do pastor alemão simpático. Existem também os guardinhas: o de boné, gente boa, e o comprido, meio estranho, mas simpático, que ficam no primeiro quarteirão da Antônio de Gouveia Giudice (partindo da Orobó), o cara-amarrada esquisito logo antes do Cruzamento, com seus amigos de terno e gravata.. . Tem também o moleque da Tipuana, que fez supletivo no Santa, gente-fina, embora eu não dê oi para ele há tempos... E aquele cara singular que sai para passear com um pastor maravilhoso e pára no ponto da Eliza, muito curioso.

... I saw a film today, oh boy... The English Army had just won the war.. the crowded people turned away.. but I just had to stay.

Realmente o concreto bem que podia te machucar mais seriamente. A todos nós. Nessa cidade onde há tanto cinza, tanto preto, tanto cimento, asfalto, concreto, massa de areia e cola e outras coisas mortas, que a água da chuva, quando chove, não corre para a terra, para o fundo, mas para as ruas, e depois mais ruas e por fim mais ruas até que chegue à rua grande onde tem um rio e termine de alagar tudo, misturando à podridão da secura dessa cola cinzenta a podridão molhada de uma massa viva que fede, que não tem cor, que não é.
Mesmo assim, é uma grande bobagem, tudo isso. As pessoas param na rua para ver o corpo depois do acidente. Morreu? Parece que sim... Coitado! Depois, desaparecem nas ruas. Tudo sempre igual.

Igual aos moleques jogando futebol com o corpo de um passarinho. O côrpo! Morto, môrto, môrto! O sangue ainda quente do pássaro que meus gatos caçaram, cheirando, carne, sangue, caça, em minhas mãos inocentes, virgens. Talvez só eu ficasse para ver sangrar teu corpo ainda quente.. A abelha periclitando, arrastando-se por meus dedos finos e caindo sem saber bem porquê. As três gotas de sangue guardadas num guardanapo. Uma Gota de meu Sangue, entre outras coisas, "quem te deu isso?", um silêncio confuso, delicioso (adoro o silêncio).

Um navio negreiro transportava negros tirados do conforto de suas vidas como todas as outras vidas (cheia de regras estúpidas) para o mercado brasileiro, vendê-los numa praça numa quarta-feira. A maior parte dos pretos morreram na viagem; os que sobreviveram trabalharam feito cães cavalos nas fazendas e cidades e outras joças até que finalmente morreram num momento de descanso ou de trabalho.

Eu realmente achei que os rios tivessem que ser mais fundos para ficarem mais limpos. Não é isso que nos ensinam nas escolas? 60% da água da Sabesp é muito simplesmente perdida em vazamentos nos canos pela cidade toda.

... and though the roses were rather small.. we had to count them all ...

Tanta bobagem que a gente fala... Cada coisa que parece que nem falamos nada... Tudo tão sem importância... E entretanto cada detalhezinho conta no final das contas.. cada mínima variação na expressão diante de uma situação qualquer.. Até as coisas que não deveriam contar...

Hoje num cruzamento atravessando a rua uma mulher dentro de um carro estava extremamente sorridente. Nunca vi. No meio do trânsito, conversando com uma menina que eu supús que fosse sua filha. Eu olhei para ela e sorri, e me animou tanto que comecei a cantar do nada, bastante alto. Ri. Ela sorrindo, deixei-a para trás. Nunca cheguei a saber porque ela estava sorrindo. Não acho que descobrirei um dia...

... now they know how many holes will fill the English Hall ...

Buracos não enchem, não preenchem nada; nós é que os preechemos, jogamos as pessoas lá dentro, armamos amadilhas para que caiam, sem maldade nenhuma, apenas esse desejo implícito de ser feliz. Por que será que é tão difícil viver sem ser feliz? Ah, e quem quer saber, a vida é tão rara... grumpf...

... I'd love to turn you on ...

Hoje eu tive um sonho. Foi um sonho bastante singular. Se passava num lugar que me lembrou de um vestiário de clube, e muitos amigos meus estavam lá. Dessa vez foi algo mais lógico, simples: só amigos, muitos bons amigos, muuuuitos dos meus amigos.
Estávamos todos nús. Alguns até tinham uma toalha, roupão, toga, pedaço de pano e talvez até biquini com que se cobrir, mas de qualquer forma estava todo o mundo nú. Não nos sentimos constrangidos, nem nada. Sentimo-nos um pouco estranhos, apenas porque, nesse estranho e ilógico mundo humano em que vivemos, existem REGRAS que dizem que ficar nú na frente de todos os seus amigos está errado.
Realmente havia muita gente no sonho. Às vezes até tentávamos nos cobrir com aqueles panos e togas esquisitos, mas eles não fechavam mesmo, e de qualquer forma ninguém fazia questão de fechá-los. Então continuamos ali, batendo papo, andando, cìvicamente nús. Numa boa. O sonho foi caminhando gradativamente para uma aceitação completa de que não havia nada de errado em poder ver o corpo inteiro dos seus semelhantes, ainda mais tão semelhantes quanto seus amigos...

Aneeway, boa noite, mes amis.

... Woke up, got out of bed, got a comb across my head ...

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