Houve um tempo em que todas as tuas palavras grudavam na minha mente como teias de aranha.
Hoje as teias de aranhas em minha mente são memórias de outras pessoas, com outras palavras. Das tuas palavras resta somente esta frase, esta questão. Me disseste, um dia, triste, depois de uma briga e uma confissão, ainda sem perdão: que nunca imaginaras que eu também pudesse ter sofrido.
Nunca
Meu sofrimento, como de vidro
transparente
meu sofrimento, solitário, escondido
no fundo do armário da cozinha, atrás das xícaras de louça para ocasiões especiais
empilhado como copos de vidro sem nem um pedaço de guardanapo entre eles
e quando tento desempilhar, estão grudados a vácuo
pelo peso do tempo
mesmo as coisas leves, se deixadas paradas por anos, afundam como se pesadas
e deixam uma marca
e machucam
mesmo nosso próprio corpo, se parado, machuca a si mesmo.
Um comentário:
olá, sou a mel amiga da erica e acabei de entrar aqui pelo seu instagram e amei como você escreve e me identifiquei com muita coisa, mas esse post, cara, esse foi close to home. escrevi recentemente também sobre sofrer escondida, sobre lidar com meu esgoto sozinha. obrigada por isso.
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