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O Condado era habitado majoritariamente por hobbits e saiajins, que viviam em perfeita paz e harmonia; porém, nas baías e istmos ao sul (que pareciam suspeitamente com a Cajaíba) haviam muitas comunidades de fadas, unicórnios, cavalos mágicos voadores, animais falantes e outras criaturas maravilhosas. As pessoas das cidades humanóides do Condado nem sempre acreditavam na existência dessas criaturas, muito embora elas visitassem suas cidades, às vezes passando despercebidas e influenciando suas vidas em segredo, outras lançando encantos e maldições desses que dão origem a contos de fadas. Mas vocês sabem que hobbits não são muito chegados a ter aventuras acontendo com eles. E os saiajins por seu lado não conseguiam entender a natureza pacífica e fabulosa das criaturas-fadas.
Mas tudo mudou quando grandes furacões e tempestades surgiram no Mar do Sul, derrubando árvores e casas e destruindo os lares das criaturas-fadas. Ondas gigantes carregavam pequenos animais para o mar aberto, morros desmoronavam sobre comunidades indefesas, e só sobreviveram aquelas criaturas que conseguiram escapar para as regiões mais centrais do Condado. Eu ajudei como pude, investindo todas as minhas energias em trazer duas criaturas queridas, uma égua alada (ou talvez fosse Asa Dourada?) e um centauro jovem que podia ter asas em seu dorso se precisasse (talvez um Unicórnio de Ziget?). Eles usaram suas asas para nos levar à frente das ondas terríveis. Durante o percurso muitas vezes tivemos que nos segurar uns nos outros; uma vez eu tive que agarrar o Unicórnio pelas duas mãos e puxá-lo com toda a força para que ele não fosse engolido por um abismo de onde um vento terrível o puxava para trás. Quando finalmente escapamos das ondas, eu ordenei que ele se livrasse das asas, porque os ventos poderiam levantá-lo por elas assim como uma tempestade destrói as velas de um navio no mar. A pégaso recolheu as suas o melhor que pôde, e seguimos juntos enquanto eu chamava todos os animais falantes com quem cruzávamos, afinal sobreviveríamos juntos. Conseguimos nos abrigar em uma cidade onde algumas construções mais resistentes abrigavam os sobreviventes -- porque as tempestades havia fustigado todo o Condado, e os hobbit (e saiajins) também haviam sofrido. Os sobreviventes eram poucos, e as instituições haviam ruído; todos se abrigavam num grande prédio que talvez tivesse sido um colégio ou uma universidade, e alguns homens mais velhos tentavam estabelecer regras e um comando que desse estrutura à sociedade. Por outro lado, alguns saiajins jovens, avessos à ordem, decidiram que, na falta de uma polícia para impôr conseqüências ao seus atos, eles podiam fazer quais maldades eles quisessem, e formaram uma gangue que aterrorizava e abusava dos outros sobreviventes. Por nossa vitalidade e experiência eu e meus colegas rapidamente nos tornamos um substituro precário de uma força policial, enfrentando e afinal capturando esses delinqüentes quando eles tentaram nos atacar. Nós levamos eles às salas de aula onde as pessoas tentavam estabelecer conselhos improvisados, e discutimos como fazê-los parar de atormentar as pessoas mesmo depois que soltássemos suas algemas (afinal não poderíamos manter nossos únicos adolescentes saiajins sob custódia permanente).
Outro problema era que os cidadãos se recusavam a acreditar na existência das criaturas-fadas que chegavam à cidade. Mais de uma vez um hobbit incrédulo veio questionar minha sanidade por eu estar conversando com meus amigos. Logo nas primeiras horas depois de chegarmos eu localizei um pequeno conselho em um antigo auditório: cinco ou seis pessoas que haviam tido certa influência tentavam discutir quais atitudes tomariam. Eu me juntei à discussão e assim que eles aceitaram minha autoridade eu chamei à palavra um líder dos roedores, um senhorzinho roedor de bastante idade, sabedoria e experiência. A reação dos conselheiros foi de choque e incredulidade, pois o meu companheiro saiu de debaixo de uma mesa e escalou os móveis com suas patas ágeis para discutir face a face comigo o futuro dos nossos povos. Alguns hobbits se revoltaram, decidindo que eu era uma pessoa louca por falar com ratos, mas a atitude serena e indubitavelmente compreensiva do meu companheiro acabou convencendo-os de que ele era um líder tão inteligente e capacitado quanto cada um de nós, e que o povo dele era tão racional quanto o nosso (senão mais). Ao longo dos dias mais e mais vezes ouvi hobbits e saiajins incrédulos por eu estar falando com bichos, mas todos eles acabavam aceitando a presença dos animais falantes. Havia porém uma porção dos cidadãos que era contrária a presença dos animais falantes na cidade, e esses queriam caçar meus companheiros, talvez até organizar grupos de caça. Por causa disso, tive que me dedicar a proteger as vidas deles, e me tornei uma espécie de intermédio militar entre os dois povos, enquanto o líder roedor se estabelecia como uma influência política. Eu tenho certeza que a longo prazo conseguiremos reerguer esta cidade com um povo misto de humanóides e criaturas fadas. Ainda não tivemos notícias do resto do Condado, mas, quem sabe? Talvez haja outras cidades, com mais sobreviventes, e talvez essa tragédia dê início a uma nova era de convivência entre os povos.