terça-feira, 19 de junho de 2007

"Não hesite! — gritou Faklam"

Variações sobre o mesmo tema



Agora há pouco aconteceu de eu encontrar na minha caixa postal um e-mail do Charles. Aliás, não: eram dois, e como eu queria ler primeiro o mais antigo, e como o mais recente parecia mais interessante, acabei lendo do primeiro apenas as primeiras palavras, enquanto do segundo li todo o conteúdo. Eram as primeiras palavras: não hesite!, gritou Faklam.
Seguiu-se: meu cérebro inquieto e prosador começou a criar para essa pose diversas possíveis continuações, cada uma a seu modo. E a cada continuação eu pensava (não, não será assim, o Charles nunca continuaria assim...) mas à verdade o texto dele acaba sendo meio parecido com minha primeira imaginação.

Seguem-se:

***

Não hesite!, gritou Faklam para Lennor, e Lennor não hesitou: saltou como uma pantera sobre o vulto que corria e o derrubou no chão com violência. A vida não lhe ensinara a ser brando; antes ensinara-lhe a ser bruto. Sua força vinha da pureza de suas decisões. Ademais Lennor era um homem calado, e a raposa que agora mantinha fortemente entre os braços era na verdade a criatura que melhor o compreendia.

***

— Não hesites! — gritou Faklam, agitando os braços enraivecido, o rosto vermelho — Se hesitares por apenas um segundo diante de um Drédjam, não viverás para se arrepender! O mundo é impiedoso; devemos ser igualmente impiedosos para manter a ordem nele!
— Mas este não é um Drédjam, senhor; é um animal indefeso! — protestou Nariu, imitando o gesticular do mestre.
— Mas achas então que quando encontrares o inimigo o reconhecerás de imediato? Não vês que também um Drédjam não passa de um animal indefeso como este — e levantou a lebre ruiva pelas orelhas, arrancando-a do abraço do rapaz — Não vês que também esta lebre é capaz de matar se sua família for ameaçada?!

***

— Não hesite! — gritou Faklam, e quando gritou pareceu tomado por um espírito louco. Makke mantinha o cano da arma firmemente apontado para a terceira vértebra da coluna do rival, mas o dedo indicador já sequer encostava no gatilho. De repente parecia-lhe inconcebível matar um homem por que viver próximo dele seria insuportável. De repente o fato da própria existência de Faklam ser o centro dos tormentos da cida de Makke parecia uma idéia idiota. Sem contar que ele não podia simplesmente tirar a vida de um homem que pedia para morrer.

***

Não hesite!, gritou Faklam, e não teve tempo de se arrepender quando todo o seu mundo conhecido voôu pelos ares.

***

— Não hesite! — gritou Faklam, com um sorriso. Momo respondeu com um latido, e entrou determinado no labirinto que era a primeira das doze provas.

***

"Não hesite", gritara Faklam do portão, mas é claro que Marcus hesitou. Não era realmente culpa dele: ele estava apenas fazendo o que fora ensinado a fazer desde que tinha dois meses e meio de idade. Agora, hesitar, calcular, pesar minuciosamente a situação e as conseqüência antes de agir se tornara parte de sua natureza. O Pêndulo, porém, não era familiarizado com a natureza de Marcus — não sabia que se esperasse apenas aquele breve instante o desafiante rapidamente se decidiria e tocaria o sino com firmeza e tranqüilidade. Ele não podia adivinhar que aquele toque geraria o badalar mais límpido e preciso que a cidade de Caluam seria capaz de apreciar. O Pêndulo, como Marcus, seguia apenas sua natureza; e no momento sua natureza dizia que qualquer desafiante que hesitasse em cumprir suas ordens deveria ser expulso ou aniquilado.

***

*******

Cansei de escrever. Vou fazer outra coisa. Boa noite, amores.

Nenhum comentário: