quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Guarda-...


eu sei lá. Uma das coisas que eu queria ter podido entender é a amizade. Nunca entendi de verdade. No ginásio, tanto não entendi que só pude chamar meus amigos de irmãos, tentando fazer parecer mais simples por associação. Associação? Nada, nada. Morto de medo. Esse ano, consegui entender, de verdade que entendi, foi tudo tão óbvio: "Amigos são aqueles que eu amo." Eu amo. Eu nunca entendi de verdade, quando me apaixonei, odiava que me chamasse de amiga porque amiga não podia te ter, te querer como eu te queria, te devorar, nem mastigar apenas engolir beber eu era realmente muito estranha. Será? Mas aí também foi bom, eu até podia entender a amizade por comparação ao amor que eu sentia por quem eu nem chamava direito de amigo, mesmo quando fui me desapaixonando do outro e querendo cada vez mais só um, e tudo foi ficando cada vez mais simples e lógico, até acabar.

O que tem depois do fim? O começo. O caos. Não gosto muito de começo. Gosto de novo. Novo porque a novidade, mesmo que seja um reencontro, sempre traz aquele arrepio na espinha, aquela empolgação inicial do devorar, do amanhecer. Variar para poder sentir uma puta saudade de casa, dos meus cachorros, dos meus amores, não vai viajar, vai, meu amor, eu não te amo mais mas bem que eu queria, bem que eu queria que o meu mundo fosse só você, como ele nunca foi mas isso não tem nada a ver, eu queria te dizer olhando nos teus olhos que você não sabe mas são muito lindos, eu queria mas não tenho certeza, sinto algo diferente dessa vez, é pior que o tumor de não poder te ter, anjo-criança mimado, mas dessa vez é mais vazio, é meio frio comparando com esse calor do verão que vai chegando, as primeiras chuvas, é isso que eu quero, tempestade de areia em alto mar, cavaleiro cruzado encouraçado, navegante dragão mestre-sala, coberto de musgo roxo, a espada é uma lâmina fina e fria e corta sem piedade nada disso importa, de qualquer forma a melhor sensação é segurar uma espada, e estar exultante de apaixonado, quero me apaixonar, quero enlouquecer, quero ser ninguém, você não percebe!

Eu não sei mais, distingüir amigo de conhecido de ídolo de mestre de amante de melhor amigo de irmão de mãe de colega de companheiro de par de parceiro, entende?

Eu quero ter alguma coisa que eu nunca tive.
Eu quero entender!

Eu quero que alguém olhe nos meus olhos e me diga que me ama.
Acho que é só você me dizer, olhando nos meus olhos, aqueles seus olhos profundos de lindos mas é que você não sabe, não deve saber que eu adoro seus olhos, pelo amor de Deus, não vê que isso é sagrado? Eu queria que você me dissesse que assim eu largava tudo, eu me apaixonava por você, não quero mais nada, não preciso de mais nada se eu puder me perder de amores outra vez, sem enrolações tão assaz um tanto quanto confusas dessa vez, namorada, família, amigas, amigos, não quero entrar em colapso só quero de novo entender, sabe, pois só assim eu pude compreender...

Amizade. O amor apaixonado aumentou minha amizade, minha capacidade de ter amigos, mas às vezes eu acho que nunca tive amigo homem nanhum, aliás nem mulher, são todas lindas, só um monte de amores desapercebidos, ela era o meu ideal de menina, natasha, dançando sem medo ria que era uma beleza, você não dançou mas às vezes eu acho que queria ter dançado a valsa com você... Não, não, deixe o passado pra lá, menina, ele era lindo e eu ouvia ele bravo, reclamando a namorada que ele não via nunca! e ele não era miado não, era? mas eu não sei, eu tinha tanto poder que a mim tanto se lhe fazia, meu amor, você era tão bobo e mimado e tinha tudo de graça, eu quase queria te ver apaixonado por alguém que não pudesse, que amasse outra pessoa, mas te amasse também, só que não o suficiente, entende, meu amor, o amor não basta pra ser feliz, não assim, você não entende nada.

[a partir daqui você não precisam mais ler, se não quiserem, ok?]

Aí ele passa a mão no meu rosto, eu não sei se significa alguma coisa, ele não vê ela quase nunca mas, por outro lado, ele disse que a ama, como é que eu posso entender um cara assim e, principalmente, o que tem o Nando a ver, eu não estou entendendo mais nada. O pior é que o sentimento que eu tinha por ele não morreu nem converteu-se, apenas, banho de água fria, sabe, ele está afogado, mas nada se desfaz, e é só eu prestar um pouquinho mais de atenção nessa pontada de carinho no lado esquerdo do peito e do rosto e da barriga que isso pode voltar a atingir proporções titânicas, mas eu não quero! eu não quero nada, eu quero seu olhar que é muito mais bonito, eu quero a sua música e as suas histórias e sua loucura, eu quero o desafio, pelo amor de deus eu não quero que nenhum deles leia isso senão perde totalmente o sentido....

Acho que eu me animei demais, mas entendam, eu me animei, minha noite estava tão desanimada que eu só posso ficar feliz, até sorri, quando tudo terminar, quando nada mais restar do teu sonho encantador...

Sabe o que é mais estranho? Por um lado é verdade, meu sonho encantador foi pro espaço. Por outro lado, quase acho que umas cenas dele começaram a se realizar agora. Por outro lado ainda, acho que meu sonho romântico real está começando agora.

Eu não sei mais do que estou falando...
E tudo o que eu queria era entender a amizade, percebe? Eu achei que amizade fosse um sentimento mas é difícil entender sentimento dessa forma quando meu coração parece não querer mais nada, só a vida, eu quero sorver a vida em goles bem grandes, quero o cheiro da chuva, da terra molhada, da pedra de água salgada o mar indo e vindo salgando o ar também, o mato molhado, a mangueira furada o cheiro de jaca e mosquitos se procriando por aí, dançando insanamente porque nosso olhar mergulhando na areia quente da praia, turbilhão, nossa cidade sob a areia-pó, você se lembra? As luzes de Angra no ano novo fogos de artifício e aquela maça assada na fogueira, vamo aê galera, paga mico, dois palito, demorô, eu queria aplaudir, correr na beira-mar chutando plânctons à noite, os lábios daquele cara eram gordos, ele inteiro tinha um cheiro mas eu não me lembro do cheiro, eu só me lembro que ele não falava nada com nada assim como aquele imbecil com cara de cachorro, mas isso eu deixo pra lá. Tudo o que foi tão feliz com vocês, minha família, e há de ser de novo, muitas e muitas vezes.

Nós somos jovens... O apito do trem, do navio, do guia, do salva-vidas, do polícia. Eu tinha medo de polícia, vinham lá fardados com aquela postura altiva e eu queria achar que os policiais eram todos prepotentes, na verdade eu achava muita bobagem, assim, eu me achava o máximo... Ricardinho, Jéssica, Vinícius, Alan, Melissa, Cauã... Naquele tempo eu sabia o que eram meus amigos, sabia mesmo. O ônibus andava meio devagar, viu? eu não vou saber explicar isso... Não precisa, meu amor, eu só gosto de ter você olhando-me enquanto durmo e eu gosto de olhar você dormindo, então estamos quites... No fundo acho que eu marquei bobeira, mas fazer o quê, era a melhor opção na época, como poderei viver sem a sua companhia?e eu não sei, eu não sei... Não sei nada. Nem quero saber, quero que você perceba, quero que entenda se as coisas derem errado para qualquer um de nós. Vamos correr dos mosquitos, vamos pular do barco, vamos? Vamos apostar corrida até a praia, eu não sei quem ganha mas quem ganhar leva caldo, quem perder também, joga uma concha na água, vamos todos sobir na pedra pra lagartear um pouco, vamos beber clight de limão e farinha de mandioca, lula, camarão.

Sabe o quê? Eu já escrevi muito demais.

Carrosel

"A vida se abrirá num feroz carrossel
e você vai rasgar meu papel..."


Um beijo.

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