Estou aqui porque uma pessoa postou um comentário no meu último post, dizendo que gosta do que eu escrevo desde O Pato Está na Ratoeira. Gente. O Pato foi uma piada interna entre eu, Yuri e Artur, que virou um blog onde postávamos coisas esquisitas, que o Artur abandonou alguns anos depois de ir para Campinas porque afinal aquilo era parte de um passado compremetedor. Eu quase não escrevia nO Pato. Eu me lembro da gosmificação dos olhos, e de Deus morrendo na fila de espera do hospital público, e de pouco mais. Meu relacionamento com Artur e Yuri era uma coisa muito estranha e muito íntima... diferente de todos os relacionamentos que eu já tive eu acho. No final uma coisa que ficou no passado, como tudo o mais. Às vezes até bate uma saudade. Ou um vazio impreenchível.
O post no qual apareceu esse comentário era sobre Zuzu. Oliver. Meu sobrinho. Hoje Tali mandou uma foto e disse que Oli já pega objetos com as mãos, amassa e joga para longe. Eu fico me arrependendo de cada oportunidade de vê-los que eu perco (que são muitas).
Eu tenho tanta coisa pra fazer e quase não vejo minha irmã e meu sobrinho. Eu sonhei com eles noite passada, sonhei que morávamos todos num mesmo condomínio, e que chamávamos a família inteira pra uma festa na piscina (inteira quer dizer todas as primas e tias avós). Eu ficava brincando com Oli. Adoro brincar com Oli, segurar no colo, passear com ele, dar banho. Pessoa fofa.
Não conseguia lembrar que eu tinha postado neste blog no último ano. Li a postagem de baixo, e era sobre meu relacionamento com minha mãe, como ela evita falar sobre certos assuntos, como ela fica brava que eu sumo, como ela quer discutir gênero e sexualidade comigo mas ao mesmo tempo não quer(emos). Semana passada eu decidi contar pra ela que eu estava saindo com uma pessoa... com uma menina, meio que. Eu estava me sentindo mal de guardar segredo, sabendo que se fosse um homem eu talvez já tivesse contado antes. Seguiu uma conversa esquisita na qual minha mãe me falou que eu não era trans e mais um monte de coisas sobre gênero, porque de alguma forma ela conectou todos os assuntos como se eles fossem uma coisa só. Não, sério.
Ela disse que sabia que eu não era trans porque eu era muito feminina, e ela acrescentou que "eu não sei de onde você herdou essa feminilidade, porque não foi de mim". Aí eu falei pra ela que ela era muito mais feminina, mas ela falou que ela se achava super masculinizada e nada feminina. Eu falei que eu é que era masculinizade, e ela é que era feminina, que usava vestidos, e pintava as unhas, e se arrumava e gostava dessas coisas "de mulher", e inclusive ela estava me dizendo que usar vestido era uma delícia como se ela estivesse preocupada com o fato de eu não querer usar. Aí a gente ficou nesse "é você!", "não, é você!" por mais algumas iterações até a gente abandonar o assunto. Mas eu fiquei pensando que é engraçado que ela se veja como masculinizada e eu como feminina. Talez a questão seja que ela de fato quer ser mais feminina, que ela de fato gostaria disso, embora pra ela não seja muito natural, enquanto eu estou na situação oposta, porque isso que ela vê como "feminilidade" em mim é algo que está fora do meu controle, é algo que eu tento evitar mas não consigo, eu detesto o quanto eu me esforço pra ser macho e mesmo assim todo mundo me diz que eu sou fofa e delicada e feminina e blargblargblarg. Talvez a gente se incomode mais com aquilo que a gente não consegue controlar. Se bem que ultimamente eu tenho refletido sobre como eu não tenho também a coragem de deixar a fofura e delicadeza de lado. Elas são como muralhas altas, impedindo as pessoas de chegarem perto. São coisas seguras, coisas que no máximo vão levar as pessoas a me verem como um pouco boba e inferior e incompetente como acontece quando você é lida muito estereotipicamente como mulher, mas elas implicam pouco risco... Se eu tento me impôr, me colocar, deixar a "feminilidade" de lado, eu também tenho que me provar. Eu posso jogar no easy e nunca ganhar muitos pontos, ou eu poderia me arriscar a talvez ser completamente destruíde, mas com uma chance de ganhar um highscore, como algumas pessoas muito mais fodelantes do que eu fazem. Eu tenho mêdo demais. E toda vez que eu exponho meu lado menos fofinho, vem alguém e me destrói... até eu aprender que o que eu considero foda e sério e adulto em mim são coisas que outras pessoas (homens) consideram noob e infantil. Eu sou um garoto de treze anos. Deixa eu repetir isso porque é importante.
Eu sou um garoto de treze anos. Eu cansei desse jogo de ser fofinha e de pelúcia e de ajudar os outros com seus problemas impossíveis de resolver e etc. Mas eu não tenho nada mais. Eu não sei me impôr eu não passei a adolescência levando xingamento escroto dos meus amigos pra saber que isso é tudo na boa fé. Na real, eu passei a adolescência recebendo diminutivos pejorativos dos meus amigos, e me defendi guardando dentro de mim tudo o que era grande e perverso e... associando tudo isso a sexo eu acho.
Na verdade tudo isso é uma metáfora pra todas as minhas outras inseguranças. Eu vou parar por aqui porque eu já sei que falar sobre as minhas inseguranças não me ajuda em nada a diminuí-las e efetivamente só me faz me sentir mais idiota por estar "me expondo", como minha mãe disse.pas
Um comentário:
Eu tenho seu blog adicionado aqui no "favoritos"...e queria dizer que gosto demais da forma como vc escreve.
Acho que já devo ter dito isso em algum momento.
Mas é sempre bom lembrar o quanto as pessoas são boas em algo.
;)
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