Pra falar a verdade, eu não gosto muito de ler os comentários do meu blog. Controversamente, eu adoro que as pessoas comentem no meu blog. Por mais que metade das vezes eu ache desagradável ler o que vocês escrevem, eu sempre quero saber o que vocês estão pensando. Muitas vezes eu vou ignorar o que li, mas vou prestar atenção, e vou ficar feliz por ter te conhecido um pouco melhor, por ter te provocado uma reação.
Em geral eu me incomodo porque eu escrevo coisas muito pessoais, eu escrevo sobre coisas muito pessoais, e algumas delas são desagradáveis, e quase sempre uma ou duas pessoas colocam comentários sugerindo cursos de ação para resolver o meu problema. Eu nunca fico feliz com esses cursos de ação.
Às vezes a questão é simplesmente que se me parecesse possível tomar esse curso de ação, eu estaria tomando-o, e não escrevendo no blog. É que às vezes as sugestões das pessoas são coisas óbvias, ou coisas em que eu já pensei. Eu não sei bem o que dizer desses casos. Sempre me parece que se eu disser "eu já pensei nisso, não adianta", eu só vou estar sendo chata e rejeitando conselhos amigos.
Às vezes a questão é que o conselho não faz o menor sentido, porque você não entendeu o meu problema. Isso me deixa com raiva quando é alguém próximo, que deveria conseguir me entender, mas também me deixa um pouco triste porque eu não consegui me expressar. Meus amigos estão sempre reclamando que eu sou obscura e que não dá pra entender meus posts. A sensação que eu tenho é de que eu estou falando outra língüa. No fundo, eu tenho que admitir que eu escrevo esses posts muito pessoais para mim mesma, e não para vocês. Eu continuo postando eles no blog porque vocês ficam me dizendo que eles são bonitos, e que fazem vocês pensarem, e eu tenho vontade de ouvir alguém dizer que entende, que também passa ou passou por isso, que não é fácil mesmo, mas que tem solução (mas vocês quase nunca respondem isso, o que me desespera). Mas no fundo o que eu deveria escrever no blog são os posts de discussão e os de estórias, não os muito pessoais. Ninguém parece entender quando eu estou falando de mim mesma, porque, sabe, aquela parte da minha mente que eu revelo aqui foi criada num mundo paralelo, e nenhum de vocês conhece as referências. Eu sempre tive um pouco de vergonha de contar a verdadeira história, também.
Como em geral os comentários são de gente calma e superior ao problema, vendo soluções simples e fáceis, às vezes me dá a impressão de que sou só eu que tenho essas loucuras. E isso é o pior. Eu queria ser uma pessoa calma, estável, confiante, uma líder e uma companheira, mas eu sempre perco tempo demais da minha vida me afundando em desesperos inúteis. Vocês todos não são assim. Vocês têm as Respostas Fáceis. Vocês acreditam que têm as soluções, ou que têm a forma de se chegar às soluções. E eu admito que não quero seguir a maior parte dos seus conselhos. Eu não os ignoro; eu arquivo, seleciono os melhores pedaçõs, quando há, tento até me convencer a experimentar algumas partes que me parecem imbecis. É muito difícil acreditar nas idéias dos outros.
Eu tenho plena consciência de que eu faço a mesma coisa quando os outros estão em apuros. A fragilidade do outro convoca uma força na gente, uma segurança, de repente a gente enxerga tudo com clareza e sabe exatamente onde está o problema. A fraqueza do outro faz a gente se sentir forte e capaz, faz a gente se sentir bem. Eu detesto essa característica nossa de parar de sentir dor apenas porque a pessoa ao lado está sentindo mais dor do que a gente. Como se ser forte fosse ajudar a diminuir a dor dela. Como se manter a calma fosse acalmá-la. Quando eu estou nervosa, tudo o que eu não quero ao meu redor é gente calma. Eu quero gente capaz de gritar comigo e me tirar do sério. Eu passo tempo demais da minha vida me contendo, não querendo revelar minhas fraquezas.
Aí eu venho aqui e revelo, e todas essas pessoas legais que eu gostaria que me admirassem conhecem todos os meus defeitos. Eu devia calar a boca, eu devia começar a mentir pra vocês, a mostrar a minha face mais bela, a mostrar como eu posso ser forte e competente e mais capaz do que vocês imaginam. Eu queria dirigir até a sua casa e te chamar pra entrar no carro e te levar até um lugar fantástico que eu conheço como a palma da minha mão. Mas isso tudo seria se esconder, e por mais que eu te queira, eu não sei se ainda te quereria se você acreditasse na minha máscara e eu não tivesse vergonha de me mascarar. Eu tenho fraquezas, muitas, eu admito. Mas eu não tenho vergonha de quem eu sou. Eu não me sinto culpada por quem eu sou. Eu sinto até um pouquinho de orgulho, às vezes.
De qualquer forma, pessoas, obrigada. Por favor continuem a comentar.
E comentando os últimos dois comentários (no post abaixo):
Ugo, pensando bem, eu sempre chamo as pessoas pra sair. Eu sou razoavelmente extrovertida quando as pessoas não são assustadoras =P. Eu evito chamar pra sair homens muito seguros de si e muito interessados em mim. Esses eu só chamo pra conhecer meus amigos. Meu amigos são mais ou menos receptivos, mas nem sempre rola. Com certa freqüência eu acho que meus amigos estão olhando pro novo babaca que eu conheci na esquina e desaprovando. Às vezes eu me pergunto se esse critério é bom o suficiente, já que é tão preconceituoso, e tal. O problema é que... não sei, não me sinto segura pra conversar com um um homem desconhecido num lugar público, se eu estiver sozinha. Isso me perturba.
Hita, eu... eu entendo que ficar no círculo de amigos é opressivo. Aí eu vou pras bordas do círculo e descubro que a galera da borda conhece um monte de gente diferente. Os amigos dos amigos dos meus amigos dão gente bastante diferente, bastante libertadora. Às vezes é bom. Eu não me sinto confortável no meio de gente muito diferente de mim, e a maior parte das pessoas é, é claro. Eu não tenho essa manha de sair falando merda pra todo mundo e se rolar, rolou, senão, não. Às vezes eu faço isso, mas, sei lá, não é o meu comum. Não é assim que eu sou, eu gosto de ouvir as pessoas. Às vezes meus amigos fazem amizade com umas pessoas chatíssimas! Eu não consigo me abrir pra gente de quem eu não gosto. Às vezes eu conheço uma pessoa e imediatamente estou falando de tudo o que importa com ela; mas tem que rolar um clima. Tem gente que nem abre espaço pra esse clima rolar, e a gente fica com a sensação de que nem conhece a pessoa... Mas nada disso tem a ver com a pessoa ser amiga ou não, se pá. É que... sim, eu me sinto estranhamente excluída quando as pessoas estão falando de coisas que indiretamente me ofendem, mas eu não chego a ter vontade de confrontar as pessoas com essas coisas pelas quais elas passam sem notar. Isso seria tão pentelho. Tão mala. E talvez eu não queira parecer tão sensível. Mas eventualmente, se não houver um jeito natural de falar das coisas, eu talvez me desinteresse por aquelas pessoas, se elas não forem apaixonantes. Talvez eu precise me apaixonar eplas pessoas para confiar nelas. Talvez eu só consiga acreditar no que os meus sentimentos gritam pra mim num volume que sempre será ouvido.
2 comentários:
É realmente curioso como as pessoas gostam de dar soluções para os problemas dos outros, mas não para os proprios.
"A grama do vizinho é sempre mais verde".
Não, não fez sentido.
enfim, só quis dizer que as pessoas são frustradas por não saberem o que fazer com os proprios problemas e gostam de arrumar os dos outros.
Mas são problemas, então ninguem nunca entende 100% do seu problema, ou então seria exatamente como você, e teria tantas soluções quanto você.
Quando aos comentarios dos comentarios, eu sou a unica que discorda deles?
Consigo fazer amizades de ponto de onibus, mas não acho limitador ser só amiga dos amigos e conhecer gente assim... meio mundo está conectado dessa forma!
Acho que essa é a grande magia do psicólogo. A diferença entre uma conversa com um psicólogo e uma amigo é que o psicólogo, teoricamente, não vai te dar dicas. ele não vai pensar a respeito do que você está falando, nem vai lhe dizer o que é ou não é. Um psicólogo te ouve e acolhe aquilo que você der pra ele, sem oposição, teoricamente. Claro, sempre existem os maus profissionais, e é por isso que eu sou a favor da constante busca e troca de psicólgos, pois cada um vai conseguir ouvir aquilo que lhe coube e te ajudar a se ouvir, sem desviar muito daquilo, mas dando um olhar o mais parecid possivel com o que você está falando pra ele.
Talvez você devesse experimentar umas sessões com um terapeuta, preferencialmente um existencialista heideggeriano fenomenólogo. Você talvez pela primeira vez vai sentir quando alguém ouve, entende e aceita suas angústias, e nada fará além te jogar de cara nelas, para enfrentá-las e enxergá-las com clareza...
E, como eu sempre digo, sem há solução. Ela nem sepre é esperada ou planejada. Mas no fundo, as coisas sempre caminham para onde elas devem caminhar...
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