quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ficou na cabeça...

Um dia você veio aqui, a gente conversou
Lá pelas tantas você me perguntou uma coisa assim:

— Você não acha que a certeza de que você sempre pode encontrar alguém pra namorar faz você valorizar menos essas pessoas? Se você pode conquistar qualquer pessoa, você não deixa de dar valor para o amor que você já tem?

Não sei se foi isso mesmo, mas fiquei com a sensação de que foi isso.

E é claro que a resposta é não. Se você vivesse numa ilha deserta com só mais uma pessoa, você amaria mais essa pessoa? Você daria mais valor a ela por isso? Talvez. Mas esse valor seria realmente válido? Se você estivesse quase sozinho, as pessoas que estivessem com você mereceriam mais o seu afeto?

Eu acho que não, eu não amaria mais uma pessoa só pela falta de opção. Eu me resignaria, possivelmente. Eu a trataria bem, talvez. Mas quer saber? Eu não ia achar ela melhor por isso. Talvez eu fosse má com ela também, afinal, a gente poderia brigar, passar meses separados, e ainda haveria um jeito de se reencontrar, por falta de opção.

Eu de fato confio menos na atenção de pessoas que acham que não têm, ou parecem não ter, outras opções. Eu me pergunto "será que ela está do meu lado só porque não encontrou quem realmente queria?". Não que eu não goste de ter a atenção de pessoas mesmo nessa situação, mas não acho que seja uma coisa necessariamente boa.

...

Só pra deixar as coisas claras, eu não disse exatamente que eu podia conquistar quem eu quisesse. O que eu disse foi que eu arranjo namorado muito fácil, mas isso é em parte porque eu me apaixono fácil por quem gosta de mim. Por um lado, sim, eu acho que isso contribui para eu não acreditar muito em namoro, porque eu sei que eu poderia estar feliz com outra pessoa, porque eu me conheço. Por outro lado, eu não preciso estar com você. Se você me largar, eu vou ficar triste mas eu vou sobreviver. Mas toda vez que eu te machuco por um motivo ou por outro, eu corro atrás de você pra pedir desculpas, pra te reconquistar (bom, quando eu noto -- eu sou meio tapada, ok). Eu não preciso fazer isso. Eu faço porque eu te amo.

Então, tipo, eu realmente acredito que ter outras possibilidades sempre torna mais valorosa a escolha que você fez, aquela que fecha todas as outras possibilidades. Só é difícil às vezes entender exatamente que escolha é essa.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pela janela

"Mocinha esperou até o sol se pôr
Que final romântico, morrer de amor
Pensando na janela em tudo o que viveu
Fingindo não ver os erros que cometeu

E aí
Tanto faz
Se o herói não aparecer
E aí
Nada mais...
"

Incrível como o tempo todo eu penso em você. O tempo todo eu quero você, eu quero sentir você, eu quero ouvir você. Tudo o que eu faço eu penso em contar pra você. Tudo o que eu penso eu quero saber o que você acha. Eu preciso de você com um desespêro impotente que me dá nojo! Não é como antes quando eu queria deitar na sua porta como um cão fiel e esperar você sair dos seus deveres, mas é mais intenso, e me parece ainda mais perigoso. Eu não quero precisar disso desse jeito; há momentos em que eu devo ficar sozinha. Mas eu me distraio e me pego pensando de novo, por que eu tenho que estar sozinha, por que eu não posso estar aí com vocês?

Como é difícil! Em cada intervalo eu me pego rolando o celular na palma da mão, resistindo ao impulso de fazer uma ligação, falar qualquer merda, quer conversar, como vão suas aulas, o que você tem feito? Eu saio da aula nem tão triste por que das seis aulas duas foram legais mas bate uma melancolia, eu penso nos meus amigos almoçando juntos, bandejando, eu penso nos que estão trabalhando, nos que estão fazendo mestrado, nos que estão começando avançado, fazendo monografia, começando a trabalhar, tentando acabar a faculdade. Um dia. Eu avanço pelas ruas como pelas horas, tudo tanto faz, e no fundo da minha mente uma pergunta imbecil, eu preciso mesmo disso? é isso o que eu quero? isso vai dar certo? esse plano de vida que eu elaborei, vale a pena?

Acho que este semestre é o meu suicídio. Vou acabar destruindo tudo o que eu fiz até agora, e não sei se sei exatamente pra quê. A questão é se vou conseguir reerguer depois. Eu meio que estava gostando do que estava construindo. Gostando bastante.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mais um não.

Pensando bem, eu não vou voltar.
Eu não quero voltar. Eu só vejo fogo lá atrás.

Eu quero queimar tudo.

Eu não quero tentar reacender velhas amizades, eu não quero me basear em nada do que já foi. Eu quero cortar minhas raízes, e esquecer o passado.

Pensando bem, eu nunca vou me encontrar. Eu sou um pássaro que já voou, um inverno que passou, uma estrela que morreu, uma peça que saiu de cartaz.

Eu não quero guardar nada do meu passado. Eu quero enterrar cada caderno, cada carta de amor. Eu não quero sequer me lembrar dos sonhos, das risadas. Eu quero cortar o pecíolo e me largar no vento.

Eu quero perder a idade, perder o mêdo de envelhecer, perder o arrependimento, perder o compromisso. Eu quero perder a dor, perder a traição. Eu quero perder a culpa de ter abandonado.

Parece que quando a gente resolve um problema, a gente praticamente esquece que ele existia. Então eu quero esquecer de tudo. Eventualmente, tudo desaparece.

Eu quero me libertar da vida que eu tive até aqui. Esquecer que estou presa a ela, esquecer o dever que tenho para com ela. Eu quero recomeçar.

Acho que quem em sou agora não bate com a visão de mundo que eu tinha antes. Não bate com quem eu era, no que eu acreditava. Eu quero fechar os olhos e parar de tentar entender.

Desenhos de Caieiras





Como o Márcio já disse neste post, nós saímos para passear no domingo em Caieiras e fizemos alguns desenhos. Durante esse passeio, tivemos também uma interessante conversa sobre a arte de desenhar. O Márcio explicou que seus desenhos tinham evoluído muito a partir da percepção de que haviam características da casa que não eram importantes para a imagem geral dela

— Como o número de janelas.
— Você quer dizer, é claro, que não faz diferença se há, por exemplo, sete ou oito janelas numa parede.
— Sim, mas também em números pequenos: a diferença entre duas ou três janelas é muito pequena. E isso mesmo se são de tipos diferentes.

Eu olhei para o morro cheio de casas que ele estava desenhando, e para o desenho dele. De fato, as casas são perfeitamente reconhecíveis mesmo tirando-se características muito notáveis como essa. Mas pra mim, o objetivo de desenhar não é que as coisas sejam reconhecidas. Embora muito me interesse essa característica da imagem que nos permite reconhecê-la mesmo quando a alteramos em muitos aspectos, quase sempre se eu faço um desenho de observação é para entender as características do objeto. O meu desenho não pretende representar o objeto, mas apenas onbservá-lo. Imagino que a brutalidade da diferença entre o meu estilo de desenho e o do Márcio talvez derive dessa diferença crucial entre nossos objetivos.