quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pergunta.

Tenho uma pergunta para quem leu as últimas partes dessas Histórias: quem é a Velha da Pedra, e quem é a donzela Fælyn?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Primeiro Dragão de Roder - versão da Velha



Roder não era apenas um guerreiro corajoso, hábil e incansável. Ele também era jovem e bonito. Mal chegou à vila, todas as moças se apaixonaram por ele. Mas Roder não estava interessado em garotas; estava interessado em monstros. Queria a emoção da batalha e a aclamação de uma vitória! Assim, a única garota que chamou sua atenção foi a que conseguiu ser capturada pelo dragão das redondezas. Chamava-se Fælyn, tinha quinze anos e tudo o que sabia fazer era cantar e encantar os garotos, mas o que queria mesmo era ser resgatada por um grande herói. Roder veio assim que ouviu a história pela primeira vez. Trazia só sua espada e sua coragem. Entrou na caverna sozinho, e percorreu inúmeras câmaras antes de encontrar a câmara do tesouro, onde a donzela estava amarrada com correntes de ouro num trono cravejado de rubis. Roder não reparou nos rubis nem na beleza da garota, porque não tinha olhos capazes de enxergar belezas, mas viu uma donzela em perigo e jurou que iria salvá-la e punir seu raptor, o dragão. Primeiro quebrou as correntes de ouro, depois gritou pelos túneis da caverna clamando o desafio do dragão. O dragão não veio. Roder era paciente e esperou três dias na sala do tesouro, gritando e chamando. Não passaram fome porque entre os tesouros do dragão havia fruteiras que nunca se esvaziavam e taças que estavam sempre cheias, e dormiram bem sobre cobertores trançados com fios de ouro. Fælyn era uma moça astuta e durante todo o primeiro dia reuniu tesouros e provisões para sair da caverna e viver ricamente no mundo de fora. Dizia que iriam viver em um palácio imenso, viajariam em elefantes, teriam panteras e tigres num grande jardim, e todos os príncipes viriam jantar em seus banquetes. Como o herói ignorasse suas fantasias, a donzela perdeu o ânimo, deixou de acreditar na alegria do seu imenso sonho, e no segundo dia tentava atrai-lo para fora da caverna com outra proposta: se estabeleceriam numa vila nas montanhas, teriam terras para cultivar e protager, defenderiam a vila de ataques de monstros e dragões e seriam recompensados com o amor dos vilãos e com fartos banquetes. Roder, na sua obcessão pelo inimigo que não aparecia, não dava ouvidos às fantasias da donzela. No terceiro dia, Fælyn decidira que iria embora sozinha, com o ouro que pudesse carregar, e procuraria um homem mais sensato, junto ao qual pudesse comprar terrar, construir uma casa e viver em paz e conforto, rodeada de servos. Foi só quando já saía da imensa galeria que se deu conta de que o tesouro que realmente a atraía não era o ouro, nem as pedras preciosas, mas o homem destemido que viera resgatá-la. Então largou o ouro e as pedras e chamou-o outra vez, agora dizendo que iriam juntos resgatar donzelas e lutar contra monstros, que juntos salvariam vilas e reinos, que todo o mundo conheceria Roder o matador de dragões, que ela contaria como ele a salvara das garras do monstro cruel, e que ele ainda a salvaria muitas outras vezes. A isso Roder finalmente cedeu. A imagem dos muitos dragões que ainda ia enfrentar o fez esquecer momentaneamente o que não tinha enfrentado, e ele aceitou sair acompanhado da moça. Os dois estavam felizes com a perspectiva de sua vida futura. Saíram da caverna fazendo planos e discutindo rotas. Roder se animara com a visão de seu futuro, e agora contava incríveis histórias de todos os feitos que pretendia realizar. Porém, mal chegaram à vila, ouviu-se um urro bestial vindo da cova atrás deles.
O sonho de Roder e Fælyn não era tão forte quanto aquele urro.
— Voltarei para te buscar, — ele disse, e então mergulhou novamente na caverna.
Fælyn esperou por ele, aqui onde nós estamos, por dias, semanas, meses. O herói não voltou. As pessoas na cidade diziam que ele havia derrotado o dragão, e que partira para enfrentar outro. Mas algumas poucas pessoas, nesta vila ou em outras, inclusive a própria donzela, sabiam que isso era mentira. Algumas pessoas, notadamente a donzela, sabiam que naquela caverna não havia um dragão, não havia um Inimigo: havia apenas uma garota chamada Fælyn.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Desânimo

Mas não é só isso. Quer dizer, não é só a frustração dos trabalhos que não dão mais prazer, das aulas em que não se faz nada nem se aprende, da rotina que gira em falso, que não significa nada, nem a dificuldade filha da puta de se ter amigos que no mínimo apareçam numa festa de aniversário (uma vez por ano, porra, com garantia de diversão), nem a resistência interna cada vez maior de se considerar uma designer que é cada vez mais parecida com dor, nem apenas também o horário noturno que que torna o sacrifício muito maior. É tudo isso, sempre foi, ainda é, mas eu sei agora que é algo mais, algo que vem não apenas da vontade de realizar os sonhos de infância mas também do outro lado, do lado que quer vencer, do lado que quer chegar ao fim de alguma coisa, que não agüenta mais estar alheio a tudo isso. Não é só isso — é que agora cada vez que eu vejo uma pessoa feliz com suas conquistas, uma pessoa se formando, uma pessoa fazendo iniciação, uma pessoa estudando ou trabalhando (na verdade, mesmo se a pessoa não estiver feliz) eu sinto uma dor no peito, um desejo de ser assim também, de estudar, de trabalhar, de ir em frente, de fazer grandes coisas.

Mas eu não posso ser assim na FAU. Eu não sei ser assim. Eu não posso trabalhar sozinha e eu também não tenho o pique para acompanhar o ritmo do resto da turma. Eu não posso vencer na FAU. Eu nunca vou vencer. Eu continuo me perguntando por que eu escolhi justamente um dos poucos cursos que ia me fazer me sentir amarrada ao mesmo tempo que ofereceria os maiores de todos os desafios. Não há como eu honestamente acreditar que eu vou conseguir me formar nesse curso. Mesmo se eu conseguisse fazer umas sete ou oito matérias por semestre (sem optativas) eu me formaria em no mínimo seis anos. Ou talvez o mínimo, contando os conflitos de horário e whatnot, já tenha chegado em sete. E aí, mesmo me esforçando ao máximo ou desistindo de todas as optativas, eu teria que pedir por favor pra comissão não me jubilar. Mas eu não quero mais me esforçar ao máximo para aprender quase nada, eu não quero ter que convencer a comissão de nada. Eu quero estudar mecânica, programação, didática, arte, história; eu quero conseguir tirar um sentido disso tudo. O design na verdade faz sentido. O que não faz sentido é este curso de design.

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PS.:
Meus sonhos de infância são:
. viver na selva
. ser um animal selvagem
. lutar muito bem
. construir brinquedos
. fazer brinquedos de controle remoto
. escrever livros
. fazer histórias em quadrinhos
. fazer jogos de videogame
. saber muitas coisas
. ensinar
. velejar
. viajar
. viver com muitos bichos e muitas plantas
. andar a cavalo
. jogar bola bem

Acho que o design é uma boa forma de amarrar tudo, sem problemas.
Bem, o problema é que eu não tenho nada pra amarrar.