Eu falo com você e percebo
o quanto eu menti pra você
Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter dito todas as coisas estúpidas em que eu acreditei
Eu queria ter dito as coisas que pareciam verdade porque eu te queria
Eu queria ter confessado que talvez eu estivesse falando bobagem
Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter tido coragem
Mas eu fiquei em silêncio, e agora tudo passou,
passou.
Eu falo com você e sinto
uma camaradagem tranqüila com você
Por baixo da minha vergonha por ter mentido
Por baixo da minha vergonha de ter escondido
Milhões de verdades como raios de sol no solstício de verão iluminando tudo
Milhões de verdades bonitas que eu podia te oferecer mas não ofereci porque eu tinha mêdo de apenas te ofender
por que eu tinha mêdo de receber um não.
Agora, o que eu posso te dar? Nada, tudo já passou.
Você não precisa mais do que eu tinha a te oferecer
E eu deixei passar
E eu deixei passar
Eu queria ter te mostrado que existia uma cura para a dor
Eu queria ter corrido o risco, e queria ter apostado
Que mesmo se fosse horrível, mesmo se
Mesmo se eu fosse depois me sentir jogada aos teus pés
Eu queria ter apostado na sua benevolência
Em me amar pelo menos um pouco de forma que
Eu não precisasse ter vergonha de estar me arrastando aos seus pés
Eu queria ter te ajudado
Eu queria ter te salvado
Eu queria ter revelado as verdades que eu via em você
Eu queria ter te mostrado a beleza de olhar pra você
Eu queria ter te estendido a mão quando você estava afundando e...
Eu estendi uma mão muito tímida pra você
Porque você era em todo caso tão gigantemente superior que eu, bem...
Eu estendi uma mão tímida pra você
E você ainda me agradece
Eu acho que ainda te amo, embora agora seja diferente
Agora eu não tenho mais tanto mêdo
Em baixo da minha vergonha de ter te contado mentiras
Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter te ajudado
Eu queria ter te oferecido o que eu tinha a oferecer
Eu queria ter me exposto
Eu queria ter tido coragem de me oferecer
No fim, só me resta aquela arte fraca, aquela prova da minha vergonha de não ter coragem de me arriscar pra te ajudar a sair de um mundo mau
...
Mas você saiu sem mim.
palavra por palavra, procuro chegar, devagar, ao lugar de La Loba.
"O silêncio", disse o griot,"só é escuro no começo..."
segunda-feira, 26 de março de 2012
domingo, 25 de março de 2012
En Passant nº3
Eu vejo você sorrindo com palavras
(através de listas de Cálculo)
Eu sinto você limpando as minhas lágrimas com palavras
(através da minha frustação com a graduação)
Eu ouço você se enfurecendo com palavras
(através de um livro do Cálculo)
Eu quero você jogando video-game comigo, com muitas palavras
(no meu sonho, eu estudo porque preciso aprender)
Ah, como eu quero jogar tudo pro alto e rir com você, com palavras.
(através de listas de Cálculo)
Eu sinto você limpando as minhas lágrimas com palavras
(através da minha frustação com a graduação)
Eu ouço você se enfurecendo com palavras
(através de um livro do Cálculo)
Eu quero você jogando video-game comigo, com muitas palavras
(no meu sonho, eu estudo porque preciso aprender)
Ah, como eu quero jogar tudo pro alto e rir com você, com palavras.
quinta-feira, 22 de março de 2012
En passant nº 2
De perto nos poros sinto saudade de um mar que se apega à pele
De perto dentro das minhas narinas guardo o cheiro dele
De perto minha garganta se aperta sem motivo aparente
De perto, o cheiro das folhas e o gosto da terra que sinto através dos poros
Bem perto, o calor do sol e o seu sorriso me chamam para mais um dia dentro do mundo
De perto dentro das minhas narinas guardo o cheiro dele
De perto minha garganta se aperta sem motivo aparente
De perto, o cheiro das folhas e o gosto da terra que sinto através dos poros
Bem perto, o calor do sol e o seu sorriso me chamam para mais um dia dentro do mundo
quarta-feira, 21 de março de 2012
Rápido, en passant!
Teus olhos através do vidro através do vidro,
(eu sei, é acrílico)
no lugar que é teu e não é meu, mas é
meu para estar na altura de te olhar nos olhos
meu para tomar o teu café e comer o teu doce
Teus olhos meio que me recebendo, eu sem expectativas.
Eu gosto de você.
(eu sei, é acrílico)
no lugar que é teu e não é meu, mas é
meu para estar na altura de te olhar nos olhos
meu para tomar o teu café e comer o teu doce
Teus olhos meio que me recebendo, eu sem expectativas.
Eu gosto de você.
segunda-feira, 19 de março de 2012
Comentários
Pra falar a verdade, eu não gosto muito de ler os comentários do meu blog. Controversamente, eu adoro que as pessoas comentem no meu blog. Por mais que metade das vezes eu ache desagradável ler o que vocês escrevem, eu sempre quero saber o que vocês estão pensando. Muitas vezes eu vou ignorar o que li, mas vou prestar atenção, e vou ficar feliz por ter te conhecido um pouco melhor, por ter te provocado uma reação.
Em geral eu me incomodo porque eu escrevo coisas muito pessoais, eu escrevo sobre coisas muito pessoais, e algumas delas são desagradáveis, e quase sempre uma ou duas pessoas colocam comentários sugerindo cursos de ação para resolver o meu problema. Eu nunca fico feliz com esses cursos de ação.
Às vezes a questão é simplesmente que se me parecesse possível tomar esse curso de ação, eu estaria tomando-o, e não escrevendo no blog. É que às vezes as sugestões das pessoas são coisas óbvias, ou coisas em que eu já pensei. Eu não sei bem o que dizer desses casos. Sempre me parece que se eu disser "eu já pensei nisso, não adianta", eu só vou estar sendo chata e rejeitando conselhos amigos.
Às vezes a questão é que o conselho não faz o menor sentido, porque você não entendeu o meu problema. Isso me deixa com raiva quando é alguém próximo, que deveria conseguir me entender, mas também me deixa um pouco triste porque eu não consegui me expressar. Meus amigos estão sempre reclamando que eu sou obscura e que não dá pra entender meus posts. A sensação que eu tenho é de que eu estou falando outra língüa. No fundo, eu tenho que admitir que eu escrevo esses posts muito pessoais para mim mesma, e não para vocês. Eu continuo postando eles no blog porque vocês ficam me dizendo que eles são bonitos, e que fazem vocês pensarem, e eu tenho vontade de ouvir alguém dizer que entende, que também passa ou passou por isso, que não é fácil mesmo, mas que tem solução (mas vocês quase nunca respondem isso, o que me desespera). Mas no fundo o que eu deveria escrever no blog são os posts de discussão e os de estórias, não os muito pessoais. Ninguém parece entender quando eu estou falando de mim mesma, porque, sabe, aquela parte da minha mente que eu revelo aqui foi criada num mundo paralelo, e nenhum de vocês conhece as referências. Eu sempre tive um pouco de vergonha de contar a verdadeira história, também.
Como em geral os comentários são de gente calma e superior ao problema, vendo soluções simples e fáceis, às vezes me dá a impressão de que sou só eu que tenho essas loucuras. E isso é o pior. Eu queria ser uma pessoa calma, estável, confiante, uma líder e uma companheira, mas eu sempre perco tempo demais da minha vida me afundando em desesperos inúteis. Vocês todos não são assim. Vocês têm as Respostas Fáceis. Vocês acreditam que têm as soluções, ou que têm a forma de se chegar às soluções. E eu admito que não quero seguir a maior parte dos seus conselhos. Eu não os ignoro; eu arquivo, seleciono os melhores pedaçõs, quando há, tento até me convencer a experimentar algumas partes que me parecem imbecis. É muito difícil acreditar nas idéias dos outros.
Eu tenho plena consciência de que eu faço a mesma coisa quando os outros estão em apuros. A fragilidade do outro convoca uma força na gente, uma segurança, de repente a gente enxerga tudo com clareza e sabe exatamente onde está o problema. A fraqueza do outro faz a gente se sentir forte e capaz, faz a gente se sentir bem. Eu detesto essa característica nossa de parar de sentir dor apenas porque a pessoa ao lado está sentindo mais dor do que a gente. Como se ser forte fosse ajudar a diminuir a dor dela. Como se manter a calma fosse acalmá-la. Quando eu estou nervosa, tudo o que eu não quero ao meu redor é gente calma. Eu quero gente capaz de gritar comigo e me tirar do sério. Eu passo tempo demais da minha vida me contendo, não querendo revelar minhas fraquezas.
Aí eu venho aqui e revelo, e todas essas pessoas legais que eu gostaria que me admirassem conhecem todos os meus defeitos. Eu devia calar a boca, eu devia começar a mentir pra vocês, a mostrar a minha face mais bela, a mostrar como eu posso ser forte e competente e mais capaz do que vocês imaginam. Eu queria dirigir até a sua casa e te chamar pra entrar no carro e te levar até um lugar fantástico que eu conheço como a palma da minha mão. Mas isso tudo seria se esconder, e por mais que eu te queira, eu não sei se ainda te quereria se você acreditasse na minha máscara e eu não tivesse vergonha de me mascarar. Eu tenho fraquezas, muitas, eu admito. Mas eu não tenho vergonha de quem eu sou. Eu não me sinto culpada por quem eu sou. Eu sinto até um pouquinho de orgulho, às vezes.
De qualquer forma, pessoas, obrigada. Por favor continuem a comentar.
E comentando os últimos dois comentários (no post abaixo):
Ugo, pensando bem, eu sempre chamo as pessoas pra sair. Eu sou razoavelmente extrovertida quando as pessoas não são assustadoras =P. Eu evito chamar pra sair homens muito seguros de si e muito interessados em mim. Esses eu só chamo pra conhecer meus amigos. Meu amigos são mais ou menos receptivos, mas nem sempre rola. Com certa freqüência eu acho que meus amigos estão olhando pro novo babaca que eu conheci na esquina e desaprovando. Às vezes eu me pergunto se esse critério é bom o suficiente, já que é tão preconceituoso, e tal. O problema é que... não sei, não me sinto segura pra conversar com um um homem desconhecido num lugar público, se eu estiver sozinha. Isso me perturba.
Hita, eu... eu entendo que ficar no círculo de amigos é opressivo. Aí eu vou pras bordas do círculo e descubro que a galera da borda conhece um monte de gente diferente. Os amigos dos amigos dos meus amigos dão gente bastante diferente, bastante libertadora. Às vezes é bom. Eu não me sinto confortável no meio de gente muito diferente de mim, e a maior parte das pessoas é, é claro. Eu não tenho essa manha de sair falando merda pra todo mundo e se rolar, rolou, senão, não. Às vezes eu faço isso, mas, sei lá, não é o meu comum. Não é assim que eu sou, eu gosto de ouvir as pessoas. Às vezes meus amigos fazem amizade com umas pessoas chatíssimas! Eu não consigo me abrir pra gente de quem eu não gosto. Às vezes eu conheço uma pessoa e imediatamente estou falando de tudo o que importa com ela; mas tem que rolar um clima. Tem gente que nem abre espaço pra esse clima rolar, e a gente fica com a sensação de que nem conhece a pessoa... Mas nada disso tem a ver com a pessoa ser amiga ou não, se pá. É que... sim, eu me sinto estranhamente excluída quando as pessoas estão falando de coisas que indiretamente me ofendem, mas eu não chego a ter vontade de confrontar as pessoas com essas coisas pelas quais elas passam sem notar. Isso seria tão pentelho. Tão mala. E talvez eu não queira parecer tão sensível. Mas eventualmente, se não houver um jeito natural de falar das coisas, eu talvez me desinteresse por aquelas pessoas, se elas não forem apaixonantes. Talvez eu precise me apaixonar eplas pessoas para confiar nelas. Talvez eu só consiga acreditar no que os meus sentimentos gritam pra mim num volume que sempre será ouvido.
Em geral eu me incomodo porque eu escrevo coisas muito pessoais, eu escrevo sobre coisas muito pessoais, e algumas delas são desagradáveis, e quase sempre uma ou duas pessoas colocam comentários sugerindo cursos de ação para resolver o meu problema. Eu nunca fico feliz com esses cursos de ação.
Às vezes a questão é simplesmente que se me parecesse possível tomar esse curso de ação, eu estaria tomando-o, e não escrevendo no blog. É que às vezes as sugestões das pessoas são coisas óbvias, ou coisas em que eu já pensei. Eu não sei bem o que dizer desses casos. Sempre me parece que se eu disser "eu já pensei nisso, não adianta", eu só vou estar sendo chata e rejeitando conselhos amigos.
Às vezes a questão é que o conselho não faz o menor sentido, porque você não entendeu o meu problema. Isso me deixa com raiva quando é alguém próximo, que deveria conseguir me entender, mas também me deixa um pouco triste porque eu não consegui me expressar. Meus amigos estão sempre reclamando que eu sou obscura e que não dá pra entender meus posts. A sensação que eu tenho é de que eu estou falando outra língüa. No fundo, eu tenho que admitir que eu escrevo esses posts muito pessoais para mim mesma, e não para vocês. Eu continuo postando eles no blog porque vocês ficam me dizendo que eles são bonitos, e que fazem vocês pensarem, e eu tenho vontade de ouvir alguém dizer que entende, que também passa ou passou por isso, que não é fácil mesmo, mas que tem solução (mas vocês quase nunca respondem isso, o que me desespera). Mas no fundo o que eu deveria escrever no blog são os posts de discussão e os de estórias, não os muito pessoais. Ninguém parece entender quando eu estou falando de mim mesma, porque, sabe, aquela parte da minha mente que eu revelo aqui foi criada num mundo paralelo, e nenhum de vocês conhece as referências. Eu sempre tive um pouco de vergonha de contar a verdadeira história, também.
Como em geral os comentários são de gente calma e superior ao problema, vendo soluções simples e fáceis, às vezes me dá a impressão de que sou só eu que tenho essas loucuras. E isso é o pior. Eu queria ser uma pessoa calma, estável, confiante, uma líder e uma companheira, mas eu sempre perco tempo demais da minha vida me afundando em desesperos inúteis. Vocês todos não são assim. Vocês têm as Respostas Fáceis. Vocês acreditam que têm as soluções, ou que têm a forma de se chegar às soluções. E eu admito que não quero seguir a maior parte dos seus conselhos. Eu não os ignoro; eu arquivo, seleciono os melhores pedaçõs, quando há, tento até me convencer a experimentar algumas partes que me parecem imbecis. É muito difícil acreditar nas idéias dos outros.
Eu tenho plena consciência de que eu faço a mesma coisa quando os outros estão em apuros. A fragilidade do outro convoca uma força na gente, uma segurança, de repente a gente enxerga tudo com clareza e sabe exatamente onde está o problema. A fraqueza do outro faz a gente se sentir forte e capaz, faz a gente se sentir bem. Eu detesto essa característica nossa de parar de sentir dor apenas porque a pessoa ao lado está sentindo mais dor do que a gente. Como se ser forte fosse ajudar a diminuir a dor dela. Como se manter a calma fosse acalmá-la. Quando eu estou nervosa, tudo o que eu não quero ao meu redor é gente calma. Eu quero gente capaz de gritar comigo e me tirar do sério. Eu passo tempo demais da minha vida me contendo, não querendo revelar minhas fraquezas.
Aí eu venho aqui e revelo, e todas essas pessoas legais que eu gostaria que me admirassem conhecem todos os meus defeitos. Eu devia calar a boca, eu devia começar a mentir pra vocês, a mostrar a minha face mais bela, a mostrar como eu posso ser forte e competente e mais capaz do que vocês imaginam. Eu queria dirigir até a sua casa e te chamar pra entrar no carro e te levar até um lugar fantástico que eu conheço como a palma da minha mão. Mas isso tudo seria se esconder, e por mais que eu te queira, eu não sei se ainda te quereria se você acreditasse na minha máscara e eu não tivesse vergonha de me mascarar. Eu tenho fraquezas, muitas, eu admito. Mas eu não tenho vergonha de quem eu sou. Eu não me sinto culpada por quem eu sou. Eu sinto até um pouquinho de orgulho, às vezes.
De qualquer forma, pessoas, obrigada. Por favor continuem a comentar.
E comentando os últimos dois comentários (no post abaixo):
Ugo, pensando bem, eu sempre chamo as pessoas pra sair. Eu sou razoavelmente extrovertida quando as pessoas não são assustadoras =P. Eu evito chamar pra sair homens muito seguros de si e muito interessados em mim. Esses eu só chamo pra conhecer meus amigos. Meu amigos são mais ou menos receptivos, mas nem sempre rola. Com certa freqüência eu acho que meus amigos estão olhando pro novo babaca que eu conheci na esquina e desaprovando. Às vezes eu me pergunto se esse critério é bom o suficiente, já que é tão preconceituoso, e tal. O problema é que... não sei, não me sinto segura pra conversar com um um homem desconhecido num lugar público, se eu estiver sozinha. Isso me perturba.
Hita, eu... eu entendo que ficar no círculo de amigos é opressivo. Aí eu vou pras bordas do círculo e descubro que a galera da borda conhece um monte de gente diferente. Os amigos dos amigos dos meus amigos dão gente bastante diferente, bastante libertadora. Às vezes é bom. Eu não me sinto confortável no meio de gente muito diferente de mim, e a maior parte das pessoas é, é claro. Eu não tenho essa manha de sair falando merda pra todo mundo e se rolar, rolou, senão, não. Às vezes eu faço isso, mas, sei lá, não é o meu comum. Não é assim que eu sou, eu gosto de ouvir as pessoas. Às vezes meus amigos fazem amizade com umas pessoas chatíssimas! Eu não consigo me abrir pra gente de quem eu não gosto. Às vezes eu conheço uma pessoa e imediatamente estou falando de tudo o que importa com ela; mas tem que rolar um clima. Tem gente que nem abre espaço pra esse clima rolar, e a gente fica com a sensação de que nem conhece a pessoa... Mas nada disso tem a ver com a pessoa ser amiga ou não, se pá. É que... sim, eu me sinto estranhamente excluída quando as pessoas estão falando de coisas que indiretamente me ofendem, mas eu não chego a ter vontade de confrontar as pessoas com essas coisas pelas quais elas passam sem notar. Isso seria tão pentelho. Tão mala. E talvez eu não queira parecer tão sensível. Mas eventualmente, se não houver um jeito natural de falar das coisas, eu talvez me desinteresse por aquelas pessoas, se elas não forem apaixonantes. Talvez eu precise me apaixonar eplas pessoas para confiar nelas. Talvez eu só consiga acreditar no que os meus sentimentos gritam pra mim num volume que sempre será ouvido.
segunda-feira, 12 de março de 2012
Reavaliando
Como eu achei que deveria fazer, estou aqui para comentar no post de ontem. Pra dizer que exagerei, que não é bem assim. Que na verdade, já aconteceu uma vez de eu conhecer um cara no ponto de ônibus e confiar que eu podia sair com ele. Ele era da minha idade, tinha estudado junto com meus amigos e estudava junto com outros meus amigos. Ele tinha aquele jeito familiar, seguro. Até hoje ainda o encontro e falo com ele. Tem gente que conheci a vida toda e de quem fujo, mas ele, mal o conheço e confio, sei que é gente do bem.
O problema todo é que meu mêdo não é apenas psicológico, não é apenas emocional. É que eu não consigo me convencer de que é só emocional. Se o perigo não existisse, eu ia me obrigar a encarar. Eu sempre me obrigo a encarar mêdo ididotas pelo menos uma vez. Eu me obrigo quando acho que é importante vencer o mêdo. Mas eu acho perigoso andar na rua sozinha à noite, eu acho perigoso confiar demais em homem desconhecido, e é isso. Eu acabo andando sozinha na rua, porque acho perigoso mas não tenho medo. Se eu tivesse mêdo, achando perigoso, eu nunca conseguiria enfrentar o mêdo. Do mesmo jeito que não se enfrenta mêdo de leão. Do mesmo jeito que ninguém tenta curar leophobia.
É verdade, eu sou insegura. Mas eu enfrento minha insegurança, e aos poucos, com resiliência, eu consigo vencê-la ou contorná-la. Eu me sentia oprimida na empresa que eu trabalhava, mas eu ainda falava a verdade. Quando a galera no bar começou a falar sobre como todo mundo trai e todo mundo tem que trair mesmo, mas que se pegar o outro traindo não pode ficar quieto, eu consegui dizer que isso não fazia sentido pra mim, que eu preferia ter um namoro aberto, que eu tinha um namoro aberto, e era bem mais legal. Eu consegui dizer uma coisa que pra eles era inimaginável, e que eu achei que ia soar mal naquela roda, porque não era perigoso de verdade, era só assustador. Eu não soltei os leões em cima deles dizendo que eles eram um bando de falsos que só tinham relacionamentos para se encaixar na sociedade, e que ninguém com um mínimo de coerência e respeito próprio aceitaria namorar com um deles sabendo o quanto toda aquela farsa é cínica. Não é uma obrigação moral questionar as vidas absurdas das pessoas. Eu não acho que eu poderia mudar as vidas deles com minhas palavras esboçadas, inseguras, com mêdo de virar raiva de inconformação. Mas eu defendi a minha opção de vida. Não era perigoso.
É verdade que eu sou medrosa e tenho pavor do que pode acontecer comigo se eu revelar algumas coisas em alguns grupos sociais. É verdade que freqüentemente eu escondo o que acontece comigo porque as pessoas ao meu redor me falariam coisas que me fariam me sentir mal. E eu vejo como tudo isso é um desfavor para a sociedade como um todo, porque se eu me revelasse, as pessoas começariam a aceitar, pelo menos, que existe uma possibilidade de que eu realmente acredite nessas coisas, e, se mais gente falasse a mesma coisa, eventualmente todo mundo começaria a aceitar que essas coisas são possíveis de se pensar, e eventualmente as pessoas não teriam mais vontade de falar coisas que me fazem me sentir mal. E nesse sentido eu admito que minha insegurança é um problema. Mas eu luto, pequenamente. Cada dia um pouco. Com o tempo, eu vou ganhando coragem de olhar pros esqueletos no armário com frieza, e aos poucos eu vou mostrando eles pras pessoas. Eu sou insegura, mas já fui muito mais. Eu demorei 20 anos pra reunir a coragem de contar pra alguém que já não soubesse o motivo de eu ter feito terapia quando eu tinha 4 anos. Agora eu não tenho mais mêdo de contar. Eu não sei mais se importa de verdade. Esse virou pó; próximo esqueleto!
Ao mesmo tempo, quando eu era criança, eu não tinha mêdo de morrer, não tinha mêdo de bicho nem de queda nem de dor nem de ficar perdida nem de me afogar nem de passar frio nem de ficar doente nem de me queimar. Eu achava que não tinha mêdo de nada. Hoje em dia tenho mêdo de morrer de câncer, e de ficar velha. Tenho mêdo de falhar na vida, de ficar doente, de ficar sem dinheiro. Tenho mêdo de ser ridícula, de ser estúpida, de estar no grupo dos que menos contribuem, de ser irritante, de atrapalhar. Tenho mêdo de fazer com que as pessoas não gostem de mim. Talvez quase tudo o que eu faça seja motivado pelo mêdo de que um dia as pessoas percebam que eu não sou tudo isso que elas parecem achar. Que na verdade, por dentro, eu sou irresponsável, eu sou preguiçosa, eu sou mimada, eu não sei fazer nada, eu nunca aprendi a tomar conta de mim mesma, o tempo está passando e eu não estou realizando nada. Eu sou um fracasso. Hoje eu acho que eu tenho mêdo de tudo.
Eu ainda não tenho mêdo de queda nem de dor nem de fome nem de ficar perdida nem de me afogar nem de passar frio nem de me queimar. Mas agora eu tenho um pouco de mêdo de motos e de ônibus e de caminhão, e de ser atropelada, e de ser assaltada, e de quebrar o pescoço, e ser sequestrada, e de ser fisicamente forçada a fazer coisas que eu não quero, e de levar tiro de arma de fogo. Contaram muita história de terror pra mim a vida toda, e eu acreditei em algumas delas. E eu admito que tenho um pouco de mêdo de cair, quando estou escalando. Mas se tenho uma corda de segurança, eu venço o mêdo e sigo em frente enquanto minhas pernas tremem. Eu não sou uma covarde, quando eu sei que não preciso ser.
E pensando bem, eu deveria botar mais fé na minha capacidade de avaliar os perigos. Eu não acho mesmo que eu devo ir na casa de um cara que me chama pra casa dele quando eu ainda não confio nele direito. Se o cara faz uma coisa dessas, ou ele é perigoso ou ele é muito tapado. E se pá se ele não ganhou a minha confiança ainda, ele nunca vai ganhar. Não é necessariamente culpa minha, pô.
Eu também acho que eu devia voltar pro aikidô. Esse negócio de saber se defender aumenta violentamente a sua auto-confiança ao conviver com homens. Você deixa de se preocupar com se o cara é capaz de te machucar fisicamente pra se preocupar só com se ele é capaz de te machucar com uma arma (ou com outros caras) e as chances são muito menores. Embora, eu deva dizer, eu não seja capaz de avaliar se alguém é capaz de cometer esse tipo de atrocidade que envolve várias pessoas. Vocês podem dizer que eu estou sendo paranóica, se quiserem. Não é muito difícil me convencer de que o mundo é melhor do que o que me ensinaram a acreditar (mas, curioso, ninguém tentou até agora).
Acho que o que eu quis dizer com aquele parágrafo sobre tudo o que pode ser horrível ao se ir na casa de um cara, é que numa situação dessas, existe um improvável resultado bom, um improbabilíssimo resultado horrível, e muitos resultados ruins que são bastante prováveis. Mas se eu tivesse certeza que é só uma coisa moral, contra a qual eu posso aprender a lutar, eu arranjava a força. Não tenho certeza, eu tenho mêdo.
Eu tenho mêdo de que, tendo que lutar pelos meus direitos, na hora em que eu perdesse o controle e, na minha insegurança, começasse a chorar, ele veria a minha fraqueza e daria um jeito de se aproveitar dela do pior jeito.
Então aí está, pra você que duvidou até agora: meu verdadeiro mêdo é ter que mostrar meu lado mais fraco para pessoas que vão usá-lo contra mim, e acabar comigo por dentro.
... Será que eu assumo como predicado que uma pessoa qualquer, com probabilidade um, me odeia? Mas sim, acho que é essa a sensação que eu tenho sobre o mundo: que as pessoas quaisquer, de modo geral, não têm nenhum amor ao que eu sou por dentro. E pessoas sem amor só sabem ser horríveis. Elas nem sabem como não ser.
....... Mas, essa violência à alma, não é, também, a coisa mais assustadora a respeito de um estupro? E, nesse caso, não é essencialmente o mesmo mêdo? Eu sou uma pessoa fraca e indefesa. Eu sou uma garota pequena e fraca. Eu não sou nada como os meus sonhos, forte e invencível. Qualquer um pode me subjugar. Qualquer um pode pôr as garras na minha alma e me fazer me sentir suja e horrível por algum tempo. Não é a mesma coisa?
Depois dessa longa reflexão, estou me perguntando se eu deveria enfrentar meu mê... mas, pensando bem, e se o perigo for real?! Ah. Merda, não chegamos a lugar algum.
O problema todo é que meu mêdo não é apenas psicológico, não é apenas emocional. É que eu não consigo me convencer de que é só emocional. Se o perigo não existisse, eu ia me obrigar a encarar. Eu sempre me obrigo a encarar mêdo ididotas pelo menos uma vez. Eu me obrigo quando acho que é importante vencer o mêdo. Mas eu acho perigoso andar na rua sozinha à noite, eu acho perigoso confiar demais em homem desconhecido, e é isso. Eu acabo andando sozinha na rua, porque acho perigoso mas não tenho medo. Se eu tivesse mêdo, achando perigoso, eu nunca conseguiria enfrentar o mêdo. Do mesmo jeito que não se enfrenta mêdo de leão. Do mesmo jeito que ninguém tenta curar leophobia.
É verdade, eu sou insegura. Mas eu enfrento minha insegurança, e aos poucos, com resiliência, eu consigo vencê-la ou contorná-la. Eu me sentia oprimida na empresa que eu trabalhava, mas eu ainda falava a verdade. Quando a galera no bar começou a falar sobre como todo mundo trai e todo mundo tem que trair mesmo, mas que se pegar o outro traindo não pode ficar quieto, eu consegui dizer que isso não fazia sentido pra mim, que eu preferia ter um namoro aberto, que eu tinha um namoro aberto, e era bem mais legal. Eu consegui dizer uma coisa que pra eles era inimaginável, e que eu achei que ia soar mal naquela roda, porque não era perigoso de verdade, era só assustador. Eu não soltei os leões em cima deles dizendo que eles eram um bando de falsos que só tinham relacionamentos para se encaixar na sociedade, e que ninguém com um mínimo de coerência e respeito próprio aceitaria namorar com um deles sabendo o quanto toda aquela farsa é cínica. Não é uma obrigação moral questionar as vidas absurdas das pessoas. Eu não acho que eu poderia mudar as vidas deles com minhas palavras esboçadas, inseguras, com mêdo de virar raiva de inconformação. Mas eu defendi a minha opção de vida. Não era perigoso.
É verdade que eu sou medrosa e tenho pavor do que pode acontecer comigo se eu revelar algumas coisas em alguns grupos sociais. É verdade que freqüentemente eu escondo o que acontece comigo porque as pessoas ao meu redor me falariam coisas que me fariam me sentir mal. E eu vejo como tudo isso é um desfavor para a sociedade como um todo, porque se eu me revelasse, as pessoas começariam a aceitar, pelo menos, que existe uma possibilidade de que eu realmente acredite nessas coisas, e, se mais gente falasse a mesma coisa, eventualmente todo mundo começaria a aceitar que essas coisas são possíveis de se pensar, e eventualmente as pessoas não teriam mais vontade de falar coisas que me fazem me sentir mal. E nesse sentido eu admito que minha insegurança é um problema. Mas eu luto, pequenamente. Cada dia um pouco. Com o tempo, eu vou ganhando coragem de olhar pros esqueletos no armário com frieza, e aos poucos eu vou mostrando eles pras pessoas. Eu sou insegura, mas já fui muito mais. Eu demorei 20 anos pra reunir a coragem de contar pra alguém que já não soubesse o motivo de eu ter feito terapia quando eu tinha 4 anos. Agora eu não tenho mais mêdo de contar. Eu não sei mais se importa de verdade. Esse virou pó; próximo esqueleto!
Ao mesmo tempo, quando eu era criança, eu não tinha mêdo de morrer, não tinha mêdo de bicho nem de queda nem de dor nem de ficar perdida nem de me afogar nem de passar frio nem de ficar doente nem de me queimar. Eu achava que não tinha mêdo de nada. Hoje em dia tenho mêdo de morrer de câncer, e de ficar velha. Tenho mêdo de falhar na vida, de ficar doente, de ficar sem dinheiro. Tenho mêdo de ser ridícula, de ser estúpida, de estar no grupo dos que menos contribuem, de ser irritante, de atrapalhar. Tenho mêdo de fazer com que as pessoas não gostem de mim. Talvez quase tudo o que eu faça seja motivado pelo mêdo de que um dia as pessoas percebam que eu não sou tudo isso que elas parecem achar. Que na verdade, por dentro, eu sou irresponsável, eu sou preguiçosa, eu sou mimada, eu não sei fazer nada, eu nunca aprendi a tomar conta de mim mesma, o tempo está passando e eu não estou realizando nada. Eu sou um fracasso. Hoje eu acho que eu tenho mêdo de tudo.
Eu ainda não tenho mêdo de queda nem de dor nem de fome nem de ficar perdida nem de me afogar nem de passar frio nem de me queimar. Mas agora eu tenho um pouco de mêdo de motos e de ônibus e de caminhão, e de ser atropelada, e de ser assaltada, e de quebrar o pescoço, e ser sequestrada, e de ser fisicamente forçada a fazer coisas que eu não quero, e de levar tiro de arma de fogo. Contaram muita história de terror pra mim a vida toda, e eu acreditei em algumas delas. E eu admito que tenho um pouco de mêdo de cair, quando estou escalando. Mas se tenho uma corda de segurança, eu venço o mêdo e sigo em frente enquanto minhas pernas tremem. Eu não sou uma covarde, quando eu sei que não preciso ser.
E pensando bem, eu deveria botar mais fé na minha capacidade de avaliar os perigos. Eu não acho mesmo que eu devo ir na casa de um cara que me chama pra casa dele quando eu ainda não confio nele direito. Se o cara faz uma coisa dessas, ou ele é perigoso ou ele é muito tapado. E se pá se ele não ganhou a minha confiança ainda, ele nunca vai ganhar. Não é necessariamente culpa minha, pô.
Eu também acho que eu devia voltar pro aikidô. Esse negócio de saber se defender aumenta violentamente a sua auto-confiança ao conviver com homens. Você deixa de se preocupar com se o cara é capaz de te machucar fisicamente pra se preocupar só com se ele é capaz de te machucar com uma arma (ou com outros caras) e as chances são muito menores. Embora, eu deva dizer, eu não seja capaz de avaliar se alguém é capaz de cometer esse tipo de atrocidade que envolve várias pessoas. Vocês podem dizer que eu estou sendo paranóica, se quiserem. Não é muito difícil me convencer de que o mundo é melhor do que o que me ensinaram a acreditar (mas, curioso, ninguém tentou até agora).
Acho que o que eu quis dizer com aquele parágrafo sobre tudo o que pode ser horrível ao se ir na casa de um cara, é que numa situação dessas, existe um improvável resultado bom, um improbabilíssimo resultado horrível, e muitos resultados ruins que são bastante prováveis. Mas se eu tivesse certeza que é só uma coisa moral, contra a qual eu posso aprender a lutar, eu arranjava a força. Não tenho certeza, eu tenho mêdo.
Eu tenho mêdo de que, tendo que lutar pelos meus direitos, na hora em que eu perdesse o controle e, na minha insegurança, começasse a chorar, ele veria a minha fraqueza e daria um jeito de se aproveitar dela do pior jeito.
Então aí está, pra você que duvidou até agora: meu verdadeiro mêdo é ter que mostrar meu lado mais fraco para pessoas que vão usá-lo contra mim, e acabar comigo por dentro.
... Será que eu assumo como predicado que uma pessoa qualquer, com probabilidade um, me odeia? Mas sim, acho que é essa a sensação que eu tenho sobre o mundo: que as pessoas quaisquer, de modo geral, não têm nenhum amor ao que eu sou por dentro. E pessoas sem amor só sabem ser horríveis. Elas nem sabem como não ser.
....... Mas, essa violência à alma, não é, também, a coisa mais assustadora a respeito de um estupro? E, nesse caso, não é essencialmente o mesmo mêdo? Eu sou uma pessoa fraca e indefesa. Eu sou uma garota pequena e fraca. Eu não sou nada como os meus sonhos, forte e invencível. Qualquer um pode me subjugar. Qualquer um pode pôr as garras na minha alma e me fazer me sentir suja e horrível por algum tempo. Não é a mesma coisa?
Depois dessa longa reflexão, estou me perguntando se eu deveria enfrentar meu mê... mas, pensando bem, e se o perigo for real?! Ah. Merda, não chegamos a lugar algum.
domingo, 11 de março de 2012
Confissão do Dia: eu morro de mêdo de estupro.
E isso afeta a forma como eu ajo, penso, principalmente como eu me relaciono com homens. A chance de eu sair com um cara desconhecida é baixíssima, porque eu tenho mêdo. Eu sairia com uma mulher desconhecida, com uma chance um pouco maior. Eu até sairia com o tal cara, por pouco tempo, para um lugar movimentado e bem iluminado, onde teria muita gente ao nosso redor o tempo todo. Nada de cinema, nem mesmo jantar romântico. Sair de noite, só entre amigos. E eu não deixaria ele me pagar nada que não seja muito barato, porque tenho mêdo de que ele ache que está me comprando com dinheiro, e comece a exigir coisas de mim, e eu não quero ninguém sendo horrível comigo.
Eu acho que vou receber alguns comentários dizendo que eu não deveria agir assim, então me deixe explicar para essas pessoas: eu não gosto de me comportar assim, nem acho certo. Toda vez que eu percebo que estou agindo de certa forma apenas por mêdo, eu me sinto mal. Mas eu não mudo meu comportamento, porque o mêdo é real.
Eu não sei bem como cheguei a este tópico - eu estava andando pelos comentários sobre o Dia da Mulher que estão espalhados pela internet, e é claro que entrei em blogs de feministas, e tal e coisa. Dia da Mulher me deixa desconfortável, porque é um nome muito ruim. Não tem nada de especial em ser mulher, da mesma forma que não tem nada de especial em ser homem. E quando as pessoas dizem "feliz dia da mulher", elas não estão pensando em nada. Sério, em nada mesmo. É desconfortável. Talvez a melhor reação seja a sugerida pela Hug: responder com um "Feliz dia da Igualdade Entre os Sexos pra você também."
Bom, eu estava lendo essas coisas feministas e me lembrei de uma vez que eu tava saindo com um cara, fiquei com ele uma vez (numa praça de alimentação, à tarde, pelos critérios do primeiro parágrafo), achava ele legal, e aí teve uma semana em que ele me chamou pra jantar na casa dele e pra ir num show, ele pagando. Eu fiquei completamente apavorada, primeiro porque o show parecia que ia ser uns 300 reais (eu chequei no site), depois porque eu só conhecia o cara havia um mês, só tinha ficado com ele uma vez, e ele queria me levar pra casa! E se eu fosse pra casa dele, eu ia estar totalmente à mercê dele, e sabe-se lá o que ele ia querer de mim.
Toda vez que eu conto essa história pros meus amigos, eu digo que o cara me stalkeou, que ele era louco, eu faço ele parecer assustador o suficiente pra justificar o fato de eu ter cortado contato com ele o mais rápido possível. Às vezes eu ainda esbarro com ele na USP, e me esforço bastante pra evitar qualquer brecha pra ele vir falar comigo. Mas pensando bem, colocando as coisas em perspectiva, será que eu tinha tanta razão assim pra ficar apavorada? Ou é só que eu tenho mêdo de homens em geral?
Eu não acho que seja um mêdo totalmente injustificado, porque, embora eu não conheça ninguém que eu saiba que foi estuprado, eu tenho amigos que conhecem gente que que foi, e eu conheço bastante gente que já foi assediado de alguma forma, e, hey, eu já fui assediada, e bom, de modo geral as histórias que eu conheço não tem finais emocionantes em que os culpados são punidos e as vítimas são consoladas. Algumas, talvez a maioria delas, acabam com as vítimas se sentindo obrigadas a entender e perdoar e continuar amando os culpados até o fim das suas vidas; e ah, nunca confrontar ninguém, nunca contar pra ninguém, porque, sabe, não dá pra acabar com a reputação das pessoas desse jeito. Eu ouvi uma história (sobre uma amiga de uma amiga minha) em que a garota foi com uma turma na casa do cara e acabou se trancando num quarto pra se proteger dele, e ninguém mais mencionou o episódio por mais quatro anos, até a formatura, quando ele foi eleito orador da turma e uma das amigas da mulher, que estava lá no dia, ficou revoltada que alguém com esse background fosse eleito. A moral da história é que se ninguém conta nada, ninguém pode saber que ele tem esse background.
Então, sim, as histórias são reais e são horríveis e é muito difícil lidar com uma quando você fez parte dela, mesmo quando você racionalmente acredita que o cara não sabia o que estava fazendo e que você não deve ficar brava com ele (talvez principalmente nesse caso).
Mas não é só mêdo de assédio sexual, pra falar a verdade. Não é só mêdo de que o cara seja um criminoso, que ele vá te forçar a fazer coisas. Há também o mêdo de como ele vai te tratar. Eu tive uma conversa com uma amiga que eu admiro, na qual ela disse que às vezes queria ter feito sexo com menos gente, porque às vezes ela conhece um cara super legal, que se dá bem com ela em tudo, mas que, quando ouve O Número, começa a achar que ela é uma vadia e que ela não é boa o suficiente. Eu tentei convencê-la de que isso é só um sinal de que o cara na verdade não é uma pessoa legal, mas como fazer ela parar de se sentir mal, parar de sentir que ela não é boa? Eu, como muitas outras pessoas, simplesmente evito falar demais sobre mim, evito falar a verdade sobre mim e sobre o que eu acredito, quando estou com alguém que ainda não foi aprovado e carimbado como uma pessoa legal, digo, como uma pessoa respeitosa e que aceita que a gente seja o que a gente é. Então eu também tenho um pouco de mêdo de sair com gente que eu não conheço direito, porque sabe-se lá se o cara vai ser escroto e me fazer me sentir muito mal.
Por exemplo, esse cara que me chamou pra jantar, eu tive mêdo de ir na casa dele por vários motivos. Eu fiquei com mêdo de que ir na casa dele fosse ser interpretado com um sinal de que estávamos namorando... e eu nem me considerava como "ficando" com ele! Eu fiquei com mêdo de que se eu fosse na casa dele ele ia assumir que eu queria ficar com ele, e que se eu não me sentisse bem ali e mudasse de idéia, ele podia ficar puto. Ou pelo menos que a situação podia ficar muito constrangedora. E não estou nem falando ainda de sexo! E se eu tivesse vontade de beijar ele, mas não quisesse fazer sexo, e ele estivesse esperando por isso? Quer dizer, eu estaria na casa dele! Sem nada pra interromper ou distrair ou atrapalhar. Vai saber como ele ia interpretar, se eu aceitasse estar na casa dele. E se, por outro lado, o jantar fosse ótimo e o papo fluísse e no final eu quisesse fazer sexo? Será que isso não ia ser ainda pior? Será que ele ia me achar uma vadia, ou, por outro lado, será que ele ia achar que nós estávamos namorando?! (não, eu não sei o que me assusta mais). Enfim, eu sei que parece muita loucura, mas eu não exatamente me arrependo de ter fugido desse cara. Eu não conhecia ele bem o suficiente pra achar que ele não era um homem perigoso e que só ia me fazer mal. E ele mal me conhecia e já estava oferecendo pra me pagar um show e me chamando pra jantar na casa dele. Nós dois, sozinhos, de noite, num lugar estranho, sem ninguém ao redor pra me proteger. Acho que é uma situação assustadora mesmo. Sem contar que eu nunca teria coragem de contar pra ninguém de casa o que eu estaria fazendo.
A moral da história aqui é: quantas vezes eu já deixei de encontrar alguém, já deixei de chamar alguém pra sair, já deixei de me aproximar de alguém apenas por mêdo? Viver com essa redoma de mêdo em cima da gente faz com que a gente se limite, e só aceite rapazes "de boa família", ou o equivalente moderno que é ser amigo de algum amigo próximo. Eu só me sinto à vontade com gente que se dá bem com meus amigos, gente que ou eu apresentei pros amigos ou que me foi apresentada por eles. Eu só saio em encontro com alguém que acabei de conhecer se conheci esse alguém na casa de algum amigo, e olhe lá. Minhas opções são muito limitadas. Eu não pego homem em balada, a menos que seja conhecido. Eu não troco telefone, e quando eu troco eu não atendo depois. A única situação em que eu me libero pra me divertir, sem mêdo das conseqüências, é em festa lôca na minha casa ou na dos meus amigos. Mas mesmo assim, eu dificilmente pego homem a menos que seja amigo, e mesmo se fôr amigo só se o cara estiver exatamente no mesmo clima que eu. Os demais parecem todos muito assustadores. Parte do que eu quero dizer é que essa redoma de mêdo em cima da gente deve ser parte do que torna a vida sexual dos homens solteiros tão difícil.
Outra parte do que eu quero dizer é que isso tudo é opressor.
...
Eu fico me perguntando se da próxima vez que o Marcelo vier falar comigo eu não devia falar com ele e explicar porque eu fugi dele tão rapidamente... mas, nah, eu não teria coragem...
Pra falar a verdade, eu imagino que se eu não tivesse ficado tão assustada e se eu estivesse mais interessada nele, eu poderia ter proposto pra gente se encontrar em outro lugar. Eu poderia ter contornado a situação. Mas que tipo de cara te convida pra casa dele quando vocês mal se conhecem? Logo depois de você recusar ir no show? Enfim, eu fiquei assustada, e não pensei em alternativas. Não me arrependo, também. Só me incomodo com toda a situação, e o contexto. Só fico remoendo, como que essas coisas contecem comigo.
Eu acho que vou receber alguns comentários dizendo que eu não deveria agir assim, então me deixe explicar para essas pessoas: eu não gosto de me comportar assim, nem acho certo. Toda vez que eu percebo que estou agindo de certa forma apenas por mêdo, eu me sinto mal. Mas eu não mudo meu comportamento, porque o mêdo é real.
Eu não sei bem como cheguei a este tópico - eu estava andando pelos comentários sobre o Dia da Mulher que estão espalhados pela internet, e é claro que entrei em blogs de feministas, e tal e coisa. Dia da Mulher me deixa desconfortável, porque é um nome muito ruim. Não tem nada de especial em ser mulher, da mesma forma que não tem nada de especial em ser homem. E quando as pessoas dizem "feliz dia da mulher", elas não estão pensando em nada. Sério, em nada mesmo. É desconfortável. Talvez a melhor reação seja a sugerida pela Hug: responder com um "Feliz dia da Igualdade Entre os Sexos pra você também."
Bom, eu estava lendo essas coisas feministas e me lembrei de uma vez que eu tava saindo com um cara, fiquei com ele uma vez (numa praça de alimentação, à tarde, pelos critérios do primeiro parágrafo), achava ele legal, e aí teve uma semana em que ele me chamou pra jantar na casa dele e pra ir num show, ele pagando. Eu fiquei completamente apavorada, primeiro porque o show parecia que ia ser uns 300 reais (eu chequei no site), depois porque eu só conhecia o cara havia um mês, só tinha ficado com ele uma vez, e ele queria me levar pra casa! E se eu fosse pra casa dele, eu ia estar totalmente à mercê dele, e sabe-se lá o que ele ia querer de mim.
Toda vez que eu conto essa história pros meus amigos, eu digo que o cara me stalkeou, que ele era louco, eu faço ele parecer assustador o suficiente pra justificar o fato de eu ter cortado contato com ele o mais rápido possível. Às vezes eu ainda esbarro com ele na USP, e me esforço bastante pra evitar qualquer brecha pra ele vir falar comigo. Mas pensando bem, colocando as coisas em perspectiva, será que eu tinha tanta razão assim pra ficar apavorada? Ou é só que eu tenho mêdo de homens em geral?
Eu não acho que seja um mêdo totalmente injustificado, porque, embora eu não conheça ninguém que eu saiba que foi estuprado, eu tenho amigos que conhecem gente que que foi, e eu conheço bastante gente que já foi assediado de alguma forma, e, hey, eu já fui assediada, e bom, de modo geral as histórias que eu conheço não tem finais emocionantes em que os culpados são punidos e as vítimas são consoladas. Algumas, talvez a maioria delas, acabam com as vítimas se sentindo obrigadas a entender e perdoar e continuar amando os culpados até o fim das suas vidas; e ah, nunca confrontar ninguém, nunca contar pra ninguém, porque, sabe, não dá pra acabar com a reputação das pessoas desse jeito. Eu ouvi uma história (sobre uma amiga de uma amiga minha) em que a garota foi com uma turma na casa do cara e acabou se trancando num quarto pra se proteger dele, e ninguém mais mencionou o episódio por mais quatro anos, até a formatura, quando ele foi eleito orador da turma e uma das amigas da mulher, que estava lá no dia, ficou revoltada que alguém com esse background fosse eleito. A moral da história é que se ninguém conta nada, ninguém pode saber que ele tem esse background.
Então, sim, as histórias são reais e são horríveis e é muito difícil lidar com uma quando você fez parte dela, mesmo quando você racionalmente acredita que o cara não sabia o que estava fazendo e que você não deve ficar brava com ele (talvez principalmente nesse caso).
Mas não é só mêdo de assédio sexual, pra falar a verdade. Não é só mêdo de que o cara seja um criminoso, que ele vá te forçar a fazer coisas. Há também o mêdo de como ele vai te tratar. Eu tive uma conversa com uma amiga que eu admiro, na qual ela disse que às vezes queria ter feito sexo com menos gente, porque às vezes ela conhece um cara super legal, que se dá bem com ela em tudo, mas que, quando ouve O Número, começa a achar que ela é uma vadia e que ela não é boa o suficiente. Eu tentei convencê-la de que isso é só um sinal de que o cara na verdade não é uma pessoa legal, mas como fazer ela parar de se sentir mal, parar de sentir que ela não é boa? Eu, como muitas outras pessoas, simplesmente evito falar demais sobre mim, evito falar a verdade sobre mim e sobre o que eu acredito, quando estou com alguém que ainda não foi aprovado e carimbado como uma pessoa legal, digo, como uma pessoa respeitosa e que aceita que a gente seja o que a gente é. Então eu também tenho um pouco de mêdo de sair com gente que eu não conheço direito, porque sabe-se lá se o cara vai ser escroto e me fazer me sentir muito mal.
Por exemplo, esse cara que me chamou pra jantar, eu tive mêdo de ir na casa dele por vários motivos. Eu fiquei com mêdo de que ir na casa dele fosse ser interpretado com um sinal de que estávamos namorando... e eu nem me considerava como "ficando" com ele! Eu fiquei com mêdo de que se eu fosse na casa dele ele ia assumir que eu queria ficar com ele, e que se eu não me sentisse bem ali e mudasse de idéia, ele podia ficar puto. Ou pelo menos que a situação podia ficar muito constrangedora. E não estou nem falando ainda de sexo! E se eu tivesse vontade de beijar ele, mas não quisesse fazer sexo, e ele estivesse esperando por isso? Quer dizer, eu estaria na casa dele! Sem nada pra interromper ou distrair ou atrapalhar. Vai saber como ele ia interpretar, se eu aceitasse estar na casa dele. E se, por outro lado, o jantar fosse ótimo e o papo fluísse e no final eu quisesse fazer sexo? Será que isso não ia ser ainda pior? Será que ele ia me achar uma vadia, ou, por outro lado, será que ele ia achar que nós estávamos namorando?! (não, eu não sei o que me assusta mais). Enfim, eu sei que parece muita loucura, mas eu não exatamente me arrependo de ter fugido desse cara. Eu não conhecia ele bem o suficiente pra achar que ele não era um homem perigoso e que só ia me fazer mal. E ele mal me conhecia e já estava oferecendo pra me pagar um show e me chamando pra jantar na casa dele. Nós dois, sozinhos, de noite, num lugar estranho, sem ninguém ao redor pra me proteger. Acho que é uma situação assustadora mesmo. Sem contar que eu nunca teria coragem de contar pra ninguém de casa o que eu estaria fazendo.
A moral da história aqui é: quantas vezes eu já deixei de encontrar alguém, já deixei de chamar alguém pra sair, já deixei de me aproximar de alguém apenas por mêdo? Viver com essa redoma de mêdo em cima da gente faz com que a gente se limite, e só aceite rapazes "de boa família", ou o equivalente moderno que é ser amigo de algum amigo próximo. Eu só me sinto à vontade com gente que se dá bem com meus amigos, gente que ou eu apresentei pros amigos ou que me foi apresentada por eles. Eu só saio em encontro com alguém que acabei de conhecer se conheci esse alguém na casa de algum amigo, e olhe lá. Minhas opções são muito limitadas. Eu não pego homem em balada, a menos que seja conhecido. Eu não troco telefone, e quando eu troco eu não atendo depois. A única situação em que eu me libero pra me divertir, sem mêdo das conseqüências, é em festa lôca na minha casa ou na dos meus amigos. Mas mesmo assim, eu dificilmente pego homem a menos que seja amigo, e mesmo se fôr amigo só se o cara estiver exatamente no mesmo clima que eu. Os demais parecem todos muito assustadores. Parte do que eu quero dizer é que essa redoma de mêdo em cima da gente deve ser parte do que torna a vida sexual dos homens solteiros tão difícil.
Outra parte do que eu quero dizer é que isso tudo é opressor.
...
Eu fico me perguntando se da próxima vez que o Marcelo vier falar comigo eu não devia falar com ele e explicar porque eu fugi dele tão rapidamente... mas, nah, eu não teria coragem...
Pra falar a verdade, eu imagino que se eu não tivesse ficado tão assustada e se eu estivesse mais interessada nele, eu poderia ter proposto pra gente se encontrar em outro lugar. Eu poderia ter contornado a situação. Mas que tipo de cara te convida pra casa dele quando vocês mal se conhecem? Logo depois de você recusar ir no show? Enfim, eu fiquei assustada, e não pensei em alternativas. Não me arrependo, também. Só me incomodo com toda a situação, e o contexto. Só fico remoendo, como que essas coisas contecem comigo.
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