Abro os olhos:
nada vejo
Nada sinto
nada falo
sou um pedaço de corda
môrto, rôto, amordaçado
Calado com ferro ardente
Não tenho boca, mas dente,
dente, ah, eu tenho de sobra
Sou uma loucura indecente
Um desespero fremente
Um nada acorrentado.
Quem irá calar a voz que não consente o tempo,
que se esvai tão vagarosamente...
Nem sempre o canto é uma desforra,
pode ser a hora
pode ser agora
pode ser perfeito mas não tenho nada; ,
Portas fechadas, todas!
Calai as vozes.
Fecho os olhos.
Sou azul por dentro.
Azul porque, se não fosse,
seria qualquer outra coisa.
Cálo-me diante de seu mêdo.
Fecho a janela,
fecho cada fresta,
cada espiadela,
uma cena sinistra,
uma lógica antiética,
antitésica, morfética,
ilógica, sem nexo
sem lexo, sem sexo
Como aliás, todas as coisas
menores.
Morro de sono.
Tua poesia vai
além das minhas saudades...
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Estou me divertindo com esses poemas antigos, escritos com as vozes de baixo do pensamento, as vozes do fundo da cabeça que não estão preocupadas em alinhavar um sentido. Por exemplo, eu não acho que todas as coisas menores sejam morféticas (uau, tirei essa do fundo do baú da tia... hm, qual tia era mesmo?) nem ilógicas, mas podem ser virgens com vocabulário ilimitado, acho que sim. Não sei se isso tem algum significado, acho mesmo que é só poesia bruta.
O que eu gosto é aquele trecho da primeira estrofe - dente, ah, eu tenho de sobra! - e o fim dessa mesma estrofe, que é uma referência rítmica ao poema que eu fiz pro livro do Azem no ginásio (Lua Nova). Aliás,
não faço idéia do que é a última estrofe.
2 comentários:
esse poema tem trechos muito bonitos!
Se eu escrevesse isso hoje em dia, a terceira estrofe seria:
"Sou azul por dentro,
sem perda de generalidade"
#poesianerd
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