segunda-feira, 17 de julho de 2006

Rir e Partilhar (segredos)

É só mais um dia. Mais um dia. O que estou fazendo aqui? Quero acordar bem cedo, bem cedo antes do sol nascer. E fugir contigo, contigo. Para onde? O sol o sol o sol. Loucura nos meus olhos. Os teus, pálidos. E não me vês. Parece que nunca te direi que te amo. Teu olhar, longe. Por isso, não me perdoe. Quero acordar cedo, muito cedo, para me desencontrar com minha necessidade de odiar. Em verdade, não te odeio, mas detesto tua existência. Quem sabe o que seria o mundo sem teus olhos perdidos no sempre? É, e tudo o que não sei me fascina. Quero fugir, fugir contigo. Não me amarias jamais. Terias medo de mim. Seríamos assim, dois ilustres desconhecidos a confiar plenamente um no outro. Quero dizer que sem ti eu não existiria. Seria uma outra eu, que sonharia com o mundo no qual tu existirias. O mundo que nós finjimos conhecer. Vamos, por que não vens comigo, por que não me apresentas todos os nomes das flores, todas as cores do vento? Quero chorar no teu ombro, quero finjir que te amo. Amanhã o sol nascerá antes que eu me lembre do meu sonho. Talvez eu finja que sonhei contigo; seria bom. Mas não terei sonhado contigo. Por que não me salvas desta Perdição disfarçada de milhares de coisas-tudos? Por que não me levas ao Nada, por que não me entregas aos mares? Vem, quero sentir o vento no teu rosto, tremer de medo no teu coração. Me leva pela mão, me leva para longe. Por que não me não-diz que me ama? Quero ouvir de ti o teu silêncio. Quero ouvir teus olhos me observando. Por que eu sinto assim de repente esta necessidade de viver contigo? Me leva para onde o céu encontra o mar, para onde nos encontraremos finalmente. Me leva para onde tua mão toca na minha como o sol da manhã toca as folhas novas da primavera. Por que sempre essa tensão constante, por que sempre este não-desespero? Quero ir para onde o vento sopra e o mar carrega pequenos barcos iluminados para outras margens. Quero ir além do infinito que me propuseste e me negaste. Quero tocar o rosto de Deus e ouvir o ruflar das assas do beija-flor. Quero me leves pela mão como um cavaleiro. Quero tudo. Por favor, me leva desta Perdição disfarçada de Tudo. Me leva para a Perdição que mais se parece com Nada. Me leva para onde nós dois poderemos rir e partilhar segredos. Me leva para longe, Beatriz.

Nenhum comentário: