sábado, 20 de janeiro de 2007

Exemplo

Pequeno conto de vestibular (o uso da terceira pessoa me faz me sentir menos ridícula, ok?)

Estranho isso de arte valer nota. Arte. Diziam arte sempre, em seus ouvidos. "És uma artista", diziam. Não dizia arte. Mas às vezes, quase nunca, sim. Ali, por exemplo, dadas as cirscunstâncias. Sou uma artista, pensava; pintava furiosamente, quando pensasse naquilo mais tarde pensaria que pintara com o corpo, com as mãos, ao contrário do que aconselhava Miró. Ou era Mondriant? "Arte", pensava, existe arte além de Miró ou Mondriant? Dar sentido a formas e ainda esperar ser entendido? Ou então sequer pretender ser entendido, ou ainda pretender ser incompreendido, como faziam boa parte dos artistas comtemporâneos; podia algo disso ser verdadeiro? arte, arte, e pensava no conceito de Arte como uma afronta pessoal, porque ela era a artista e o que ela fazia não era Arte. Mas pintava conclusivamente, um desenho objetivo, abstrato com elementos concretos, compreensível da mesma forma que o é uma narrativa desengajada. Mas se sentia orgulhosa, porque o desenho, embora desprovido de um significado direto, tinha sentido, e com alguma sorte os avaliadores perceberiam isso e lhe dariam alguma nota. Deixou o papel de lado e alegremente começou a segunda parte da tarefa, que envolveria dobras e colagens.
Enquanto planejava seu trabalho, olhou distraidamente para os lados, à procura de saber quão atrasada estava em relação aos outros condidatos, e de comparar seu desenho com os deles. Sorriu. A menina à sua esquerda fizera um lindo trabalho, desenhando ampliações coloridas, concêntricas, a intervalos regulares, das formas de base da proposta, dando a sensação de que as figuras haviam formado ondas sobre o papel. Era belo, sim, mas um pouco inócuo, um pouco estranho, fazer ondas a partir das letras cortadas — é que ondas poderiam ser feitas com qualquer coisa. Ela, a artista, ela aproveitara o que era próprio da figura de base (o corte) e pintara o que lhe parecia a conclusão lógica daquilo. Fazia sentido — mas, assim que olhou para o outro lado, percebeu que sentido não era o bastante. A menina à direita transformara cada uma daquelas formas cortadas em algo totalmente diferente, uma clave de sol, um instrumento musical, qualquer coisa bela, colorida e boa. Ela intervira na base, modificara, transformara a figura insensata e algo aflitiva em um conjunto animador e simpático. A menina do meio olhou para seu desenho rabiscado, envergonhada da passividade que ele revelava; pôs a folha no chão e tentou se concentrar na próxima proposta.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Conclusão após a leitura de diversos blogs et cetera

Me parece que não restou mais nada. Diante de árvores frodosas, sou raízes apenas — e qu'é-de folhas? Enxergo na distância barcos e beijos carinhosos; enxergo num fundo d'olhos o que faz valer toda uma existência. Meus olhos porém cansaram-se de falar.
Me parece que já não resta nada. Será que traio minha existência, ou é minha existência que me trai? No que consiste minha natureza? Falo de mim porque é a única coisa no mundo que realmente conheço. Respeito, admirada, tantos outros que falam de tudo o mais. Até mesmo os invejo. Não tenho mais nada. Julgo que invejo neles a capacidade de ter qualquer coisa.
É que meu coração não fala mais, meu pensamento não sente. O que busco para oferecer-vos, meus pequenos deuses da verdade, é a essência das coisas, suas pequenezas; e não mais as encontro. Pequei? Então pequei pela mentira. Privei vossos ouvidos da verdade — mas foi porque minha verdade parece tão tola! Distraio-me de mim mesma, noto que não me conheceis. É uma pena. É uma pena que eu tenha de revelar-me agora, quando a mostrar já não tenho nada.
Existe em cada olhar um vago desespêro — desespêro que busco, aflita, como a razão de todas as outras coisas. Ou conseqüência. E nada encontro. Será tudo, como eu, pó, pronto a esfarinhar-se?

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Just days in life...

É claro, eu devia fazer um post de volta a São Paulo, sobre a FUVEST ou sobre a Cajaíba ou sobre qualquer uma dessas coisinhas que vêm acontecendo e que cutucam minha alma. Será? Estou meio cansada pra fazer algo desse tipo. Estou a fim de fazer algo idiota, de jogar Porco com castigo de pinga. De subir em pedras, de me ferrar. E hoje aquele espelho quebrou e eu fiquei olhando, só... Dizem sete anos de azar mas o grande azar foi ter quebrado o espelho. O resto dá-se. E debaixo do vidro estava uma folha de jornal de outubro de 1964. Suplemento literário. Ainda não li, mas hei-de.

Hoje estou razoavelmente alegre. Talvez seja porque conversei com meu maninho, talvez porque peguei carona com os Strambi. Talvez seja até porque a Camila me chamou para a casa do Squick. Talvez seja porque eu dei um abraço na Aline e no Yuri. Estava com saudades do Ugo, da Aline e do Yuri. E também da Camila, embora eu ainda esteja apenas começando a conhecê-la. E fiquei feliz de encontrar o Nonô, o Lipão e a Marieta, que não os via havia algum tempo.

Tenho pensado muito sobre as pessoas, sobre o que representam e sobre suas atitudes, e como elas se relacionam. Não tenho tido vontade de fazer o que normalmente eu faria, isto é: sair com os amigos, rir à toa, fazer brincadeiras tolas. Estou cansada de tudo isso, e tenho vontade de ficar em casa, dormir cedo etc. Hoje de manhã ocupei-me fazendo um book fotográfico das minhas gatas — algumas das fotos saíram realmente bonitas. Eu gostaria de fazer um curso de fotografia ou algo assim.

O que mais me assusta é que tenho acordado naturalmente às seis da manhã. Simplesmente não sei como reagir a isso... ¬¬